Título: CARDEAL: DECISÃO DE RENÚNCIA CABE AO PAPA
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Fonte: O Globo, 08/02/2005, O Mundo, p. 18

O cardeal Angelo Sodano, secretário de Estado do Vaticano e considerado o número 2 na hierarquia eclesiástica, referiu-se ontem pela primeira vez ao tema de uma possível renúncia do Papa João Paulo II. Numa entrevista, o cardeal afirmou que o assunto "é algo que se tem que deixar com a consciência" do Pontífice e fez votos que ele supere o Pontificado de Pio IX, que durou quase 32 anos.

- Deixemos este tema com a consciência do Papa. Se há um homem na Igreja guiado pelo Espírito Santo, se há um homem que ama a Igreja mais do que ninguém este homem é o Papa - disse Sodano.

O cardeal acrescentou que tem "uma enorme confiança nele, e que ele sabe o que se deve fazer".

O Pontífice, de 84 anos, foi internado no dia 1º com infecção respiratória, complicação de uma gripe e do mal de Parkinson. O último Papa a renunciar por vontade própria foi Celestino V, em 1294. Gregório XII abdicou com relutância em 1415, quando mais de um papa reinava ao mesmo tempo.

Especialistas em Vaticano disseram que o fato de Sodano não ter fechado a porta ao tema e responder à pergunta poderia significar que a Igreja estaria discutindo a possibilidade.

Membros da Igreja temem perda da fala

O porta-voz do Papa, Joaquín Navarro-Valls, disse ontem que João Paulo II está melhor, mas que deve permanecer hospitalizado por mais alguns dias. Ele não tem mais febre, come regularmente e passou algum tempo sentado numa poltrona. Leu os jornais, segundo Navarro-Valls, e disse com ironia: "Vou me inteirar pela imprensa sobre como meu estado de saúde evolui."

- Seus médicos recomendaram que fique uns quatro dias mais - disse o porta-voz, sem precisar a data de alta.

No domingo o Papa apareceu na janela do Hospital Gemelli, em Roma, por cerca de 10 minutos, quando leu a bênção do Angelus, com voz rouca e quase inaudível.

Segundo o vaticanista do jornal "Il Messaggero", Orazio Petrosillo, integrantes da Santa Sé temem que o Papa perca definitivamente a capacidade de falar, devido ao mal de Parkinson e à doença recente - o que implicaria problemas litúrgicos e canônicos. A possibilidade já havia sido levantada em 2003.