Título: O SAMBA DE VIRGÍLIO E GAROTINHO
Autor:
Fonte: O Globo, 09/02/2005, O País, p. 3
Candidato avulso à presidência da Câmara dos Deputados, o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) passou parte do carnaval nos braços de um dos inimigos mais contundentes do PT: o secretário de Governo do Estado do Rio e presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho. Virgílio, que colou em Garotinho o adesivo de sua candidatura, testemunhou, constrangido, cenas de agressão explícita do peemedebista ao chefe da Casa Civil, José Dirceu. Garotinho afiançou o apoio a Virgílio.
- (Este apoio) É uma maneira de nos defendermos contra o que vem sendo feito pelo governo federal, através do senhor José Dirceu, contra o Rio. O José Dirceu tem intrigado o presidente Lula contra o Rio. Como ele é o padrinho de (Luiz Eduardo) Greenhalgh, nós não podemos apoiar essa candidatura - disse Garotinho, ao lado de Virgílio.
O peemedebista, que disse ter ido ao segundo dia de desfile no Sambódromo exclusivamente para receber Virgílio, acusou o PT de usar métodos stalinistas para expulsar desafetos. A culpa, para Garotinho, do que considera intolerância do PT é sempre de Dirceu:
- O Lula não teria motivos para ser contra o Rio. Com meu apoio, ele teve 80% dos votos do estado. Isso é da natureza dele (do Dirceu). Ele não suporta quem tenha opiniões divergentes da dele. É ele que está espalhando na imprensa que eu sou o inimigo número 1 do governo. Como posso ser inimigo do Lula se votei nele três vezes?
Quando lhe perguntaram se se considerava vítima desses métodos, Virgílio desconversou:
- Eu prefiro fazer uma campanha afirmativa. Não faço campanha com base em promessa de aumento de salário ou aumento de banheiro. Minha promessa é de fortalecimento do poder do Legislativo, de aumento das bancadas regionais, de não ter o exclusivismo das bancadas partidárias.
Deputado usa termo soviético para petistas
Ontem, ainda em campanha no Rio, o deputado usou de um termo soviético para classificar - sem dar nomes - os ideólogos petistas da candidatura de Greenhalgh (PT-SP):
- O apparatchik tem que aprender que as regras do jogo são para valer. Não é o PT que tem que aprender isso. É o apparatchik, para usar um termo soviético, já que a questão é essa.
A palavra apparatchik designava os agentes do aparato comunista na antiga União Soviética, caracterizados por submissão inquestionável ao regime ou ao líder.
O deputado disse não ter medo de punições do PT, por estar se aliando a Garotinho:
- Não há punição sem crime. Não posso sofrer punição. O fortalecimento do partido é uma posição do PT. O fortalecimento do Rio é uma posição do PT. Estou praticando o que o PT prega - disse ele.
Virgílio evitou o camarote da Petrobras, por onde passaram caciques petistas nas duas noites de carnaval no Sambódromo. O ministro da Secretaria de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, foi um deles.
- Nós, do Executivo, não participamos desse debate, mas tudo indica que vai dar Greenhalgh, o que é a solução mais adequada. O José Genoino (presidente do PT) deve estar tomando medidas em virtude de eventuais transgressões (de Virgílio) - disse Gushiken.
Genoino: PT vai insistir para que Virgílio desista
Genoino evita falar em punição antes das eleições da Câmara, na próxima segunda-feira.
- Até o dia 14, nós vamos insistir no discurso da unidade partidária, de que ele (Virgílio) não é o nosso candidato, não representa o PT nem a bancada. Vamos insistir também para que desista.
Se Virgílio não desistir, seu caso será examinado na reunião da executiva nacional do PT marcada para o próximo dia 21, quando qualquer integrante do partido poderá propor uma punição. O secretário-geral do PT, Silvio Pereira, já deu sinais de que ele mesmo poderá sugerir providências do partido contra Virgílio. O provável, no caso de punição, é que ele seja temporariamente afastado das funções partidárias, não podendo representar o partido na bancada, nas comissões e no plenário.
Garotinho garantiu que o apoio a Virgílio é majoritário no PMDB e que 15 dos 16 deputados da bancada fluminense vão votar nele. Ao lado de Virgílio e Garotinho, posaram dez deputados, entre eles Moreira Franco (PMDB-RJ), Ricarte de Freitas (PTB-MT), Ivo José (PT-MG) e João Leão (PL-BA). Hoje, o deputado vai a São Paulo, onde deverá se encontrar com o governador Geraldo Alckmin (PSDB). À noite, voltará para Brasília.