Título: ACORDO, ESPERANÇA E OTIMISMO
Autor:
Fonte: O Globo, 09/02/2005, O Mundo, p. 20

O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, anunciaram ontem o término de quatro anos de confronto, numa surpreendente guinada em suas posições. Segundo Abbas, ambos "concordaram em pôr um fim a todos os atos de violência contra palestinos e israelenses onde quer que estejam". Nas palavras de Sharon, foi acordado que "os palestinos irão interromper todos os atos de violência contra israelenses e, paralelamente, Israel suspenderá todas as atividades militares contra palestinos".

Embora os principais grupos radicais palestinos não tenham se comprometido com o acordo anunciado, o encontro de ontem em Sharm el-Sheik, no Egito, foi considerado histórico. Foi o primeiro entre um premier israelense e um presidente da ANP em cinco anos e, ainda que não tenha resultado na assinatura formal de um cessar-fogo, foi marcado por otimismo de ambas as partes.

- Uma nova oportunidade para a paz nasce hoje - afirmou Abbas. - A tranqüilidade que prevalecerá em nossas terras a partir de hoje marca o início de uma nova era.

O clima de boa vontade era tanto, que Sharon convidou Abbas a visitar sua fazenda, no deserto de Neguev, convite devidamente aceito pelo líder palestino. O presidente do Egito, Hosni Mubarak, e o rei Abdullah, da Jordânia, anfitriões do encontro, anunciaram ainda a volta de seus embaixadores a Israel após quatro anos.

- Devemos todos declarar aqui hoje (ontem) que a violência não vai prevalecer, não permitiremos que a violência assassine a esperança - discursou Sharon. - Pela primeira vez em muito tempo há esperança em nossa região de um futuro melhor para nós e nossos netos.

Temas cruciais não foram abordados

O acordo de paz foi anunciado um dia depois de a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, ter encerrado uma visita a Israel e aos territórios palestinos, em que se encontrou com os dois líderes. Na segunda-feira, antes de deixar a região, Condoleezza anunciou a nomeação de um general americano para ajudar a treinar e equipar as forças de segurança palestinas.

Ontem, horas depois do anúncio do acordo, a secretária declarou, em nota: "O sucesso não é garantido, mas os EUA estão resolutos; trata-se da maior chance de paz que provavelmente veremos nos próximos anos - e estamos trabalhando para ajudar israelenses e palestinos a aproveitar essa chance."

O Ministério da Defesa de Israel anunciou, poucas horas depois do término da reunião, que pretende libertar 500 prisioneiros palestinos já no início da próxima semana. De acordo com analistas, muito dependerá agora da capacidade de Abbas de obter uma trégua formal por parte de facções radicais, sobretudo Hamas e Jihad Islâmica, que suspenderam os ataques desde a sua eleição, mas sustentaram ontem que não estão comprometidos com o acordo anunciado no Egito.

- O anúncio do cessar-fogo representa somente a posição da Autoridade Palestina - frisou um líder do Hamas, Mushir al-Masri. - Foi uma posição unilateral (de Abbas) que não resulta de um diálogo entre as forças palestinas.

Outro dirigente do Hamas, Mahmoud Zahar, que manteve encontros com autoridades egípcias na Faixa de Gaza anteontem, afirmou:

- Estamos esperando Abbas voltar e conversar conosco. Quando analisarmos o que foi obtido, declararemos nossa posição. Não estamos sob nenhum tipo de pressão.

Analistas lembram ainda que questões cruciais permanecem em aberto, como as das fronteiras e do direito de retorno de refugiados palestinos a terras que hoje pertencem a Israel. A construção do muro de separação na Cisjordânia também não foi abordada. Um porta-voz de Israel lembrou que nos últimos quatro anos dez anúncios de cessar-fogo foram seguidos pela retomada da violência.