Título: Outro título para a contravenção
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Fonte: O Globo, 11/02/2005, Rio, p. 11

Mais uma escola comandada pelo bicho conquistou um campeonato: a Estácio de Sá, que já venceu no Grupo Especial, ficou com o primeiro lugar do Grupo de Acesso B, apresentando o enredo "Arte negra na legendária Bahia", já defendido em 1976. Com um orçamento de cerca de R$200 mil e o apadrinhamento do bicheiro Carlos Teixeira Martins, o Carlinhos Maracanã, que até o ano passado estava na Portela, a Estácio subiu para o Grupo de Acesso A e disputará, em 2006, uma vaga na primeira divisão do carnaval.

Maracanã saiu da Portela ao perder a eleição em 2004, após mais de 30 anos no comando da escola. Ele pode, contudo, ser obrigado a ver na prisão o desfile do Estácio no carnaval de 2006. Maracanã e o bicheiro Luiz Pacheco Drumond, o Luizinho, patrono da Imperatriz, foram condenados pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio, num processo sobre a lista do bicho encontrada em 1994 na casa de Castor de Andrade. Os dois puderam recorrer em liberdade. No fim do ano passado, o recurso deles começou a ser analisado pela sexta turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O relator, ministro Paulo Medina, votou pela manutenção da pena: sete anos e seis meses para Maracanã e nove anos para Luizinho. Um dos ministros, Hélio Quaglia Barbosa, pediu vistas e o processo voltará a julgamento este ano.

MP vai investigar apologia do crime

Quem também poderá enfrentar problemas com a Justiça são os diretores do Salgueiro e da Mocidade. Ontem, o deputado federal Antônio Carlos Biscaia (PT), ex-procurador-geral de Justiça, pediu ao atual procurador, Marfan Vieira, que investigue se houve apologia do crime no desfile das duas escolas. Marfan enviou o pedido a um promotor.

- O MP é a instituição legítima para defender a sociedade. O que aconteceu na avenida causa indignação na sociedade - afirmou.

O Salgueiro exibiu um carro e alas com imagens dos bicheiros Waldemir Paes Garcia, o Miro, e Waldomiro Paes Garcia, o Maninho. Ambos morreram ano passado, sendo que Maninho foi assassinado. Já o presidente da Mocidade, Paulo Vianna, agradeceu em seu discurso a Cesar Andrade, sobrinho de Castor, pela ajuda à escola. Segundo Vianna, Cesar deu R$700 mil. Condenado a nove anos de prisão por corrupção ativa, o sobrinho de Castor está foragido.

- Só agradeci a quem me ajudou. Este deputado está querendo aparecer - disse Vianna.

Marfan Vieira também determinou que a Corregedoria Geral do MP investigue possíveis vínculos do promotor de Justiça Marcelo Buhatem com a contravenção. Buhatem desfilou com a camisa da diretoria da Beija-Flor, escola de Aniz Abraão David, o Anísio, um dos chefões da contravenção.