Título: O MAIOR SALTO EM 18 ANOS
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Fonte: O Globo, 11/02/2005, Economia, p. 19
A indústria brasileira cresceu 8,3% em 2004, na maior expansão em 18 anos, informou ontem o IBGE. O aumento da produção foi generalizado - apenas um entre os 27 setores pesquisados teve desempenho negativo - e foi reflexo do vigor das exportações, de uma melhora nas condições de crédito da economia e, nos últimos meses, de uma recuperação na renda dos trabalhadores.
A taxa de 2004 superou até os 7,6% obtidos em 1994, quando a implantação do Plano Real levou a uma explosão no consumo dos brasileiros. Desde 1986, quando a indústria cresceu 10,9% no rastro do Plano Cruzado, a expansão não era tão robusta.
Os números do IBGE mostram ainda que a indústria obteve desempenho positivo mesmo nos últimos meses de 2004, quando o aumento nos juros básicos feito pelo Banco Central diminuiu o fôlego da economia. Em dezembro, a expansão foi de 8,3% frente ao mesmo mês de 2003 e de 0,6% em relação a novembro, na série com ajuste sazonal. O IBGE também revisou os números de novembro, que antes apontavam queda de 0,4% frente a outubro e, agora, mostram um aumento de 0,3% na produção.
- No fim do ano, o quadro é de acomodação com ligeiro crescimento - resumiu Sílvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE.
Bens não-duráveis avançam 3,4%
O segmento de bens de consumo não-duráveis (roupas, alimentos e medicamentos), que ao longo do ano teve desempenho aquém ao da média, liderou a indústria em dezembro: alta de 3,4% frente a novembro, no maior avanço, neste tipo de comparação, desde setembro de 2003.
- É um setor que depende menos de crédito e mais da massa salarial (o rendimento dos trabalhadores) - explicou Sales, do IBGE.
Ele acredita que a indústria está iniciando um novo padrão de crescimento, no qual os bens não-duráveis terão mais relevância. Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, destaca que este é o segmento da indústria com maior capacidade ociosa. Assim, uma mudança no perfil da expansão industrial, com os bens não-duráveis ganhando destaque, teria menos pressões inflacionárias.
Em 2004, os bens de consumo não-duráveis ficaram na lanterninha, com expansão de apenas 4%. Os bens intermediários - que ficam no meio da cadeia produtiva e servem de insumos para os bens finais - tiveram expansão de 7,4%. A maior taxa foi registrada nos bens de consumo duráveis, como automóveis e eletrodomésticos, com alta de 21,8%. Sales, do IBGE, explica que este segmento foi beneficiado por melhores condições de crédito e por uma maior estabilidade no mercado de trabalho, que permitiu aos consumidores financiarem suas compras. Segundo cálculos da consultoria GRC Visão, a taxa média de juros da economia (que baliza os crediários) foi de 16,22% em 2004, bem abaixo dos 23,37% de 2003 e a menor desde 1975.
O segmento de bens de capital (máquinas e equipamentos usados para ampliar a capacidade de produção) também registrou forte expansão no ano passado: 19,7%, a maior taxa em pelo menos 12 anos. No primeiro semestre, as máquinas e equipamentos para agricultura lideraram o crescimento, com alta de 20,5% entre janeiro e junho. Mas o resultado fechado de 2004 mostra uma expansão disseminada, com avanço de 16% nos bens de capital para a indústria, de 25,6% nas máquinas e equipamentos para transporte e de 38% para construção. Para Sales, do IBGE, mesmo levando em conta que parte desses equipamentos é exportada, o crescimento dos bens de capital indica que a economia está investindo para ampliar sua capacidade produtiva.
Em 2005, expansão deve ser menor
Na contramão do bom desempenho da indústria em 2004, a extração de petróleo e gás registrou queda de 2,9% na produção, no primeiro resultado negativo desde 1992, quando começou a série histórica do IBGE. Paradas técnicas para manutenção e atraso na entrega de plataformas prejudicaram o setor, que tem peso de 30% na indústria fluminense.
Com o crescimento de 8,3% do ano passado, a indústria acumula um aumento de produção de 20,6% nos últimos cinco anos. É uma taxa um pouco menor do que no último ciclo de expansão da indústria, entre 1993 e 1997, quando a alta foi de 22,3%.
Para 2005, as estimativas são de uma expansão menor do que a registrada em 2004. O Unibanco prevê uma alta de 6% na produção. Já o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) projeta um crescimento entre 4,5% e 5%. Fábio Giambiagi, do Ipea, acredita que, em janeiro, pode haver ligeira queda de produção. Ele lembra que o balanço da indústria automobilística, já divulgado, apresentou números negativos.