Título: SALÁRIOS NA INDÚSTRIA CRESCERAM 9% EM 2004
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 12/02/2005, Economia, p. 25
Depois de o IBGE anunciar que o desempenho da produção industrial no ano passado foi o melhor dos últimos 18 anos, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) ampliou ontem as boas notícias: o mercado de trabalho foi o grande destaque de 2004. Segundo os "Indicadores Industriais", emprego e massa salarial registraram crescimento expressivo. O número de vagas subiu 3,49% frente a 2003, mais de três vezes a taxa de expansão recorde anterior, de 2001. Já o total de salários pagos aos trabalhadores (a massa salarial) encerraram o ano 9,01% maiores, o segundo melhor desempenho da série histórica.
- Os empresários contrataram mais, por apostarem no aquecimento da demanda interna - enfatizou o coordenador da Unidade de Pesquisa, Avaliação e Desenvolvimento da CNI, Renato da Fonseca.
Indústria já sente alta de juros, dizem técnicos
De acordo com o levantamento, com exceção da massa salarial, todas as variáveis pesquisadas atingiram níveis recordes em 2004, tendo como base 1992, ano em que a série histórica da CNI foi iniciada. O faturamento industrial aumentou 14,29% em relação a 2003, quando houve uma queda de 0,15%. O uso da capacidade instalada, de 82,3% em média, também foi o maior dos últimos 12 anos. Os salários líquidos pagos na produção só não ficaram acima de 1995, quando o indicador apurou um índice de 9,9%.
Com exceção de julho, houve crescimento das horas trabalhadas ao longo de 2004, chegando a 6,21%. Trata-se de uma variável importante, pois mostra aquecimento da produção.
- Não podemos nos esquecer de que, de 1996 a 1999, o período de produção foi especialmente crítico - disse o economista da CNI.
Apesar do excelente desempenho da indústria no ano passado, a CNI avalia que o resultado obtido em dezembro, ainda que positivo, sinaliza "algum arrefecimento no forte ritmo de expansão dos meses anteriores". Segundo os técnicos da CNI, a indústria já dá sinais de que está sendo afetada pelo aperto na política monetária, e os juros altos ameaçam o ritmo de crescimento em 2005.
Quanto às vendas reais de dezembro, houve suave expansão de 0,14% em relação a novembro. Quanto ao emprego, foi verificado crescimento de 0,34% no último mês do ano passado. Também foi menos intenso o aumento da massa salarial (0,46%) em relação ao ritmo dos meses anteriores.
Fonseca disse que, além dos juros, a desvalorização do dólar pode afetar, a longo prazo, a produção industrial. Segundo ele, embora não tenha havido queda nas exportações no fim de 2004, os industriais brasileiros que exportam viram sua rentabilidade cair.
- A valorização cambial, que começou mais intensamente no segundo semestre, afetou a rentabilidade da indústria, que perdeu reais com as exportações - afirmou o economista, lembrando ainda que 80% das grandes empresas brasileiras e cerca de 30% das médias estão exportando.
Quanto aos juros, o economista disse que o grande debate é saber por que estes continuam subindo. Fonseca disse reconhecer que o objetivo é controlar a inflação, mas observou que a alta de preços só ocorreria de fato se houvesse aumento da demanda desproporcional à oferta.
- O que se deve levar em conta é o que está gerando a inflação. Grande parte decorre de preços administrados (tarifas públicas) - afirmou.
Para economista, mercado interno puxará crescimento
Fonseca avalia que, se no ano passado o grande destaque da indústria foi o mercado externo, este ano o aquecimento do mercado doméstico é fundamental para que a economia cresça. Ele observou que 60% da produção brasileira são voltados para o mercado interno.
- É inviável o crescimento sustentado sem expansão do mercado doméstico - afirmou, lembrando que a CNI prevê um aumento de 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano e de 5% em 2004.
Fonseca também defendeu que a evolução da TJLP, taxa de juros de longo prazo que corrige os financiamentos do BNDES, ocorra de forma independente da taxa básica Selic. Segundo ele, se a TJLP continuar subindo toda vez que o Banco Central elevar a Selic, os investimentos podem ser inibidos. Na quinta-feira, o presidente do BNDES, Guido Mantega, rebatera o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, que defende que a TJLP acompanhe a trajetória da Selic. De acordo com Mantega, trata-se de uma "opinião isolada de um membro do governo, que não participa das decisões sobre a TJLP".