Título: FLAMENGO: POLUIÇÃO 90 VEZES ACIMA DO LIMITE
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Fonte: O Globo, 13/02/2005, Rio, p. 25

A praia de Fernando Azevedo é a do Flamengo. Morador da Cidade Nova, ele é um dos cariocas que agüentam índices até 90 vezes maiores que o tolerado para curtir as águas mansas da Baía de Guanabara. Na manhã da última sexta-feira, tentava aproveitar com a família o que restou daquela praia.

¿ Que praia vamos freqüentar? Essa é a mais perto de casa. Além disso, as coisas aqui são mais baratas ¿ argumenta.

O estado não parece ouvir os apelos desse público. As obras na orla do Flamengo e de Botafogo previam duas etapas: a estação de tratamento do Rio Carioca e a eliminação de pontos de lançamento de esgoto na Marina da Glória, esta com verba do programa de despoluição da baía. O sistema do Rio Carioca está inoperante e, nos fundos do Museu de Arte Moderna (próximo à Marina), ainda há esgoto a céu aberto.

O governo prometeu que tão logo as obras estivessem concluídas, em 2002, o banho seria liberado na Praia do Flamengo. Dois anos e meio mais tarde, as águas têm índice de poluição muitas vezes acima do tolerado: 90 mil coliformes fecais por cem mililitros (o limite é de mil coliformes). Em Botafogo, o número chega a 1,6 milhão.

Os números assustam o infectologista Edmilson Migowski, professor da UFRJ. Ele explica que, nessas proporções, aumentam significativamente as chances de contaminação do banhista. Nas fezes, diz ele, há vários vírus, parasitas, amebas e outros organismos transmissores de doenças como hepatite A, estomatite e até meningite:

¿ O vírus da hepatite A, que pode levar à morte, resiste por semanas à água salgada. E, quanto maior o índice do agente infeccioso, ou seja, do coliforme fecal, maiores são as chances de contaminação. No Flamengo e em Botafogo, são altíssimas. É um risco alto banhar-se ali.

O pescador João Antônio Machado, de 50 anos, que de vez em quando trata micoses na pele, diz que até acreditou na melhoria da praia, mas hoje não tem mais esperança.

¿ Às vezes aparecem manchinhas na pele, mas eu cuido. Quando a maré está baixa, a gente sente até o cheiro do esgoto. É uma pena.