Título: BICHINHO DE ESTIMAÇÃO MOVE UM PIB ANIMAL
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Fonte: O Globo, 13/02/2005, Economia, p. 32

Com os pequenos animais domésticos ganhando cada vez mais destaque na casa e na vida dos seus donos, o mercado pet movimentou cerca de R$5 bilhões no ano passado. O segmento de alimentação, que representa 48% do setor, faturou R$3,89 bilhões, uma elevação de 20,41% em relação ao ano anterior. Só de ração são mais de US$1 bilhão em vendas.

A produção chegou a 1,43 milhão de toneladas, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação (Anfal-Pet). Em remédios, foram consumidos R$192,1 milhões no ano passado, de acordo com a indústria veterinária.

Isso sem falar nos acessórios como coleiras e comedouros, produtos de higiene e supérfluos (roupas, lacinhos, gravatas, perfumes, chocolates e refrigerantes), além de serviços como tosa, banho, consultas a veterinários e diárias em hotéis. Segundo o consultor de administração geral do Sebrae-SP, Sergio Diniz, os mimos aos bichinhos fazem com que as pet shops vivam hoje um boom.

A instituição estima que existam 20 mil pontos-de-venda em todo o país, sendo oito mil formais, que empregam 30 mil trabalhadores. A atividade tem uma rentabilidade garantida: uma pet shop pequena chega a faturar entre R$20 mil e R$25 mil por mês.

¿ Estamos vivendo hoje a era do pet. Toda a cadeia produtiva voltada aos animais de estimação está crescendo e há espaço até para quem estiver disposto a explorar alguns tipos de exageros, como enterros e festas de casamento para cães e gatos ¿ afirma Diniz, acrescentando que os animais fazem parte da família.

Segundo ele, o mercado se tornou promissor devido a vários fatores, como por exemplo, a diminuição do número de filhos e o fato de cada vez mais pessoas morarem sozinhas, dedicando-se mais a animais de estimação. Pelas estimativas do setor, existem 27,9 milhões de cães e 12 milhões de gatos no país. Mas só um terço dessa população consome alimentos industrializados, o que dá a dimensão do potencial de crescimento do segmento. Na Inglaterra, o percentual é de 60%, e na França, de 80%.

Viviane Rocha, dona de uma rede de pet shops em Brasília, conta que a família entrou no negócio há 11 anos e mantém bons resultados, apesar do aumento da concorrência. Segundo ela, as pessoas gastam, em média, R$600 por mês com um cachorro, incluindo alimentação, banho, vacinas, vermífugos e apetrechos.

¿ Eles são tratados como gente. No ano passado vendi mais de 500 lacinhos, muitos brinquedos, roupas e até perfume francês ¿ reforça Graça Souza, proprietária da Di Pet, outra pet shop de Brasília, que está no ramo há sete anos.

Ela diz faturar até R$100 mil por mês: os banhos variam entre R$20 e R$50, dependendo da raça do animal. Uma peça de roupa simples não sai por menos de R$20. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Acessórios Pet (Anfa-Pet), o segmento lucrou R$150 milhões em 2004.

¿ Nos últimos cinco anos, registramos um crescimento entre 6% e 8% ¿ conta o presidente da entidade, Marcelo Buarque de Vasconcelos.

A cadela Vicky, da raça rottweiler, usa xampu manipulado para evitar alergia. Sua dona, a empresária Maria da Graça Macedo, diz que não economiza dinheiro quando o assunto é o bem-estar e a saúde de Vicky, que tem até plano de saúde. O gasto mensal com a cadela é de R$500, incluindo as despesas com o passeador (uma pessoa contratada para levar o animal para passear cinco vezes por dia).

Clínicas e hotéis especiais se espalham pelo país

A ¿pet mania¿ tem efeitos mesmo para quem nunca tinha pensado em cuidar de animais. Foi o caso do empresário Antonio Edson Porto, que passou a aceitar animais em sua pousada Arraial da Serra, em Araçoiaba da Serra, próximo à capital paulista, e viu o movimento de seu empreendimento dobrar em pouco mais de um ano. Lá, a diária custa R$10 para animais.

¿ Um dia, fiz uma reserva no nome de uma moça de São Paulo, acompanhada por Alfredo. De manhã, fui saber que o Alfredo era um gato que tomava café sem açúcar ¿ diverte-se Porto.

Outro segmento do mercado pet que não pára de crescer são clínicas veterinárias e hotéis para animais de estimação. Os donos do hospital veterinário Arca de Noé, em Brasília, contam que tiveram um crescimento no faturamento de 40% em 2004, em relação ao ano anterior.

Para se aventurar no ramo, é preciso ter conhecimento específicos sobre o tema, alerta o consultor do Sebrae Sérgio Diniz. Segundo ele, que coordenou recentemente uma pesquisa em pet shops de São Paulo, a falta de conhecimento fatalmente leva ao fracasso da iniciativa.

¿ Ter uma pet shop ou uma clínica veterinária requer uma certa bagagem.