Título: A AURA DOS KENNEDY VAI A LEILÃO
Autor:
Fonte: O Globo, 13/02/2005, O Mundo, p. 37

Se fosse um americano comum, ia botar tudo na garagem e chamar os vizinhos para dar uma olhada no fim de semana. Mas como se trata da única herdeira de Jacqueline e John Fitzgerald Kennedy, os objetos foram parar na Sotheby¿s de Nova York, devem render no mínimo US$1 milhão, num leilão de três dias, de terça a quinta-feira. E, criou-se um frisson na cidade. São peças banais, candelabros de vidro azul na forma de golfinhos, uma cestinha com conchas, discos de vinil de Frank Sinatra, uns móveis meio cacarecados, pratos, copos e xícaras, alguns quebrados, mas todos saídos dos armários ou sótãos das muitas casas dos Kennedys e Onassis.

Caroline, a única filha que sobrou da mítica família, diz candidamente, no catálogo, que se viu com mais casas e pertences do que pode aproveitar ou usar, especialmente após a morte do irmão, John Fitzgerald Kennedy Jr. Já doou para a Biblioteca John Kennedy o que achou de valor, separou para ela e os filhos o que mais gosta e, pela segunda vez, botou o resto à venda.

Não achava que iria de novo criar a comoção de nove anos atrás, quando ela e John-John fizeram o primeiro leilão dos objetos de Jacqueline e Onassis, levando 30 mil pessoas à Sotheby¿s e faturando US$34 milhões, sete vezes o preço estimado por leiloeiros.

Dessa vez, é um leilão menor, com cerca de 700 lotes, poucos têm valor mas tudo pode acontecer. Em 86, os tacos de golfe de JFK foram vendidos ao ator Arnold Schwarzenegger por US$772.500, preço 858 vezes acima do previsto, as jóias de Jacqueline saíram por US$2,45 milhões ¿ 45 vezes mais que a estimativa ¿ e um mísero medidor de prata ficou valendo US$48.875 por ter a aura Kennedy.

O catálogo estimula a paixão pelo casal Jackie e Jackie. Eles estão na capa, lindos, jovens, sorridentes, a bordo do veleiro e, em 380 páginas coloridas, o estilo de vida despretensiosamente elegante dos dois é mostrado em fotos inéditas das casas em Hyannis Port, onde JFK soube que tinha sido eleito presidente, em Martha Vineyard, para onde ia John-John quando o avião caiu, e em Nova York City, onde Jacqueline morava. Os objetos estão expostos desde quarta-feira e, para tentar diminuir a multidão de curiosos no leilão, a compra do catálogo, por US$50, é pré-requisito para entrar na galeria.

¿ Todos os objetos têm um sabor Kennedy ¿ diz o vice-presidente, David Reddem.

Do ponto de vista concreto, o mais valioso é o torso de uma deusa khmer, avaliada entre US$40 mil e US$60 mil. Tem também um broche de ouro art-nouveau, em forma de flor, cravejado de diamantes e safiras, cujo preço mínimo está em US$12 mil. Há um original do filme ¿101 Dálmatas¿, desenhado no celulóide, com uma dedicatória de Walt Disney para John-John, uma raridade avaliada entre US$4 mil e US$6 mil. Mas nenhuma destas estimativas leva em conta a saudade, os anos dourados da vida americana representados por Jackie e Jackie.