Título: UM BELGA POR TRÁS DO ALICIAMENTO DE BRASILEIROS
Autor:
Fonte: O Globo, 13/02/2005, O Mundo, p. 38

São cada vez mais fortes os indícios de que a empresa Inveco International serve apenas de fachada para um esquema ainda obscuro destinado a contratar brasileiros para reforçar as fileiras de mercenários que atuam como ¿soldados privados¿ no Iraque, ao lado das tropas da coalizão. A Inveco seria responsável pela contratação de militares e ex-militares brasileiros que vinham sendo recrutados em São Paulo e Goiânia pelos alemães Frank Salewski e Heiko Emil Seibold, agora investigados pelo Ministério Público do Trabalho. O esquema foi revelado por reportagem do GLOBO publicada domingo passado.

O suposto chefe da corporação, Pierre P. Orosz, que segundo Seibold e Salewski seria um americano residente na Flórida, na verdade é um belga que tem ligações com o Brasil. Pierre Paul Eugene Orosz, de 42 anos, possui visto permanente desde 2003 para morar no país.

É casado com uma brasileira, Teresa Cristina Aparecida Hoepers Orosz, e mantém um apartamento de cobertura num prédio em área nobre no balneário Camboriú, a praia mais badalada de Santa Catarina.

Profissão de Orosz é desconhecida em Camboriú

Nos encontros que Salewski e Seibold tiveram com brasileiros candidatos a trabalhar no Iraque, Orosz sempre foi mencionado como proprietário da Inveco, homem com livre acesso ao Pentágono que garantiria o pagamento dos salários de US$6,5 mil a US$8 mil prometidos a quem topasse a missão. Segundo os alemães, a Inveco teria sede na Flórida, mas como o próprio GLOBO revelou na quinta-feira não há qualquer registro oficial da empresa no estado americano. O material de divulgação da Inveco informa que a companhia teria representações, ainda, na Costa Rica e na Suíça.

Os elementos que aumentam o mistério em torno da empresa e do próprio Orosz são reforçados por quem conhece o belga em Camboriú. A profissão dele é desconhecida. O pouco que se sabe é que viaja freqüentemente ao exterior. A mulher de Orosz atendeu o GLOBO, por telefone, na sexta-feira. Disse que o marido está em viagem à África. Indagada sobre a atividade profissional dele, desconversou.

¿ Eu não me interesso por isso, nem pergunto nada ¿ disse Teresa Orosz, acuada.

Único registro na Flórida é de empresa fechada

Diante da insistência, ela respondeu que o marido trabalha como ¿assessor de segurança¿. Ao ser informada que o assunto era a contratação de brasileiros para trabalhar como vigias de instalações militares no Iraque, Teresa Orosz retrucou:

¿ O que tem de sensacional nisso? Quando a Odebrecht mandou brasileiros para trabalhar lá no Iraque vocês da imprensa se interessaram?

Na Flórida, o único registro oficial referente a Pierre Orosz diz respeito a outra obscura empresa criada em julho de 1992 e fechada em abril de 1994. Ela se chamava International Intelligence Service Inc. e Orosz figurava como o seu vice-presidente. Ele dava como seu endereço o da própria companhia ¿ uma rua na cidade de Auburndale.

¿ Os papéis não deixam claro qual era a natureza da firma. Tudo indica que teria sido uma empresa especializada em espionagem comercial ou industrial ¿ disse um funcionário da Divisão de Corporações da Flórida, que mantém registros das empresas privadas no estado.

Para autoridades brasileiras ligadas à investigação, a falta de dados sobre quem está realmente por trás da contratação reforça a suspeita de que as promessas feitas aos brasileiros podem estar bem longe da realidade que enfrentariam no Iraque.

¿ Isso indica que os candidatos ao emprego podiam estar sendo enganados, o que pode configurar crime ¿ disse um procurador.