Título: JUSTIÇA IMPEDE ELEIÇÕES NO SALGUEIRO
Autor:
Fonte: O Globo, 14/02/2005, Rio, p. 9

A pretensão da família Paes Garcia de fazer uma nova eleição para a presidência dos conselhos fiscal e deliberativo do Salgueiro às vésperas do carnaval, esbarrou num obstáculo: Paulo Cesar Mangano, ex-presidente da escola, obteve uma liminar proibindo as eleições. Mangano, que presidiu o Salgueiro entre 1993 e 2000, entrou na briga para disputar o cargo.

¿ Entrei para preservar o direito dos verdadeiros salgueirenses. A quadra pertence à comunidade. Tem que haver transparência nas eleições e na mudança do estatuto.

Patrocínios passaram de R$14 milhões

Mas está enganado quem pensa que Mangano é temerário. Ele é amigo do patrono da Grande Rio, Jaider Soares, sócio da família Garcia nos pontos de bicho e caça-níqueis em Manaus, no Amazonas.

Além do Salgueiro, a Mocidade, o Império Serrano e a Caprichosos de Pilares também estão em pé de guerra. As brigas ainda não afetam a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), dominada pelos bicheiros e que controla as verbas do carnaval. De seu faturamento (estimado em no mínimo R$70 milhões no carnaval de 2005), R$28 milhões foram para as 14 escola do Grupo Especial (R$2 milhões para cada) e R$3,5 milhões para as escolas dos grupos de acesso (subvenção da prefeitura que a Liesa repassa).

Mas esse não é o único dinheiro que chega às agremiações. As escolas são um disputado filão de merchandising por meio dos enredos de encomenda. Empresas e governos chegam a pagar R$3 milhões para serem homenageados na Sapucaí. Este ano, pelo menos dez escolas fizeram enredos para receber algum tipo de ajuda. Somados, os patrocínios passaram de R$14 milhões.

As grandes escolas também faturam cada vez mais com os ensaios, que viraram programa de cariocas e turistas. Em algumas, a entrada custa R$20. Num camarote, o preço é a combinar. Nas maiores agremiações, o faturamento numa noite pode passar dos R$200 mil. O ex-diretor de escola conta que num ensaio já vendeu 800 caixas de cerveja: 19,2 mil garrafas.

É difícil saber se todo o dinheiro arrecadado vai mesmo para o desfile na Sapucaí. É prestar atenção ao disparate entre os valores dos gastos das agremiações, divulgados pelos dirigentes. Fernando Horta, presidente da vice-campeã Unidos da Tijuca, disse ter gasto R$2,2 milhões no carnaval. Segundo ele, além dos oito carros, a escola ainda deu fantasias para 80% dos componentes. Mas arrecada pouco porque, segundo ele, não vende o enredo.

Já o presidente da Mocidade, Paulo Vianna, disse que gastou R$5 milhões, sendo que parte dos recursos veio da empresa que patrocinou o enredo. Quase três vezes mais que suas parceiras de colocação, o Império Serrano, que informou ter gastado R$1,5 milhão, e a Caprichosos, que contou apenas com os R$2 milhões da Liga.