Título: Escolas são uma fonte de renda para bicheiros
Autor:
Fonte: O Globo, 14/02/2005, Rio, p. 9

Em 1993, com os negócios em baixa e na cadeia, os bicheiros Waldemir Paes Garcia, o Miro, e Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, pai e filho, que morreram no ano passado, fizeram uma exigência a um representante do Salgueiro: queriam ter de volta os U$2 milhões (cerca de R$6 milhões) que estimavam ter gasto com a escola.

Manda quem pode, obedece quem tem juízo: durante anos, 20% de toda a receita bruta da escola ¿ menos a da quadra, em que o percentual incidia sobre a receita líquida ¿ foi religiosamente entregue aos dois contraventores. Mesmo assim, eles foram reverenciados como beneméritos no desfile deste ano.

O acerto de Miro e Maninho com o Salgueiro, contado por um sambista que está sob ameaça de morte, ilustra como as relações do jogo do bicho com as escolas do Grupo Especial mudaram ao longo dos anos. De provedores, muitos patronos agora são donos de um negócio milionário. Ninguém joga para perder: o dinheiro aplicado no samba é investimento de retorno líquido e certo.

De olho nesse rico filão, desde o ano passado parte das escolas de samba entrou numa briga interna, na qual grupos disputam o poder. Portela, Salgueiro, Mocidade, Império e Caprichosos estão vivendo dias conturbados, por exemplo. Algo inimaginável anos atrás. Devido aos problemas dos patronos das escolas com a lei, as brigas nas agremiações do Grupo Especial estão sendo decidida nos tribunais.

¿ Os patronos pararam de botar dinheiro há muitos anos, desde que a Liesa assumiu o desfile. Um ou outro voltou a injetar recursos na falta de patrocínio. Mas, quando conseguem, não há dúvidas que eles tiram o prejuízo ¿ contou um ex-dirigente de uma grande escola carioca.

Na Portela, um grupo não ligado ao bicho conseguiu tomar o poder pela primeira vez em 30 anos, até então nas mãos do contraventor Carlinhos Maracanã. O Salgueiro pode ser a próxima escola a sair da mão dos homens condenados pela juíza Denise Frossard, em 1993 por formação de quadrilha.