Título: JUROS ALTOS AUMENTAM PROCURA
Autor:
Fonte: O Globo, 14/02/2005, Economia, p. 18

Os juros nas alturas fizeram as aplicações atreladas à Selic liderarem as captações da indústria de fundos em 2005, com uma rentabilidade atrativa, que só perde para os fundos de ações, considerados de alto risco. Para 2005, o cenário promete não ser muito diferente. Embora alguns analistas acreditem que aplicações como as feitas em fundos multimercado, que têm maior risco e são historicamente mais rentáveis, possam render mais, a grande maioria acredita que este será um ano para se tirar partido do juro alto.

Atualmente a Selic está em 18,25% ao ano, e analistas esperam uma nova alta de 0,5 ponto esta semana.

Dados do site Fortuna, que monitora a indústria de fundos, mostram que o investidor tem tirado partido das elevadas taxas. Dos pouco mais de R$6 bilhões captados pela indústria de fundos em 2005, boa parte foi destinada aos fundos DI e renda fixa, que receberam investimentos de R$1,5 bilhão e R$3,7 bilhões, respectivamente, segundo dados do Fortuna até o dia 9 de fevereiro.

¿ O juro alto estimula este tipo de aplicação, que apesar de considerada mais conservadora, tem rendido bem mais que outras categorias de maior risco. Para o investidor não pode haver maior vantagem: ele corre pouco risco e ainda consegue um bom retorno na aplicação ¿ avalia o economista Marcelo D¿Agosto, sócio do site Fortuna e autor do livro ¿Como escolher o melhor fundo de investimento¿.

Fundos só perdem em rentabilidade para a Bolsa

Desde que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central começou a subir os juros, em setembro, os fundos DI e renda fixa mostraram um excelente desempenho. De acordo com o Fortuna, desde o início do ciclo de alta dos juros as aplicações nesses fundos só perderam para as feitas nos fundos de ações.

De setembro do ano passado até 9 de fevereiro deste ano, os fundos de ações tiveram uma rentabilidade bruta de, em média, 17,6%. Em segundo lugar, vieram os fundos DI, que aplicam em títulos pós-fixados do governo e acompanham a trajetória dos juros: 6,75%. A seguir, os fundos de curto prazo (6,70%) e os de renda fixa (6,68%). Aplicações mais arriscadas, como as feitas em fundos multimercado, renderam, na média, 6,34% e os cambiais perderam 10,32% no período.

¿ Os juros reais, que hoje estão em torno de 11%, são os mais altos do mundo e, mesmo num cenário de queda, continuarão a ter um bom rendimento para os investidores. Hoje, os fundos de renda fixa têm um ganho mais tímido, mas que vai compensar a médio prazo, quando a taxa de juros cair ¿ acredita Carlos Cintra, gestor de Renda Fixa do Prosper.

Segundo ele, títulos de mais longo prazo estão rendendo em torno de 17,5% ao ano, abaixo, portanto, da Selic (18,25%). Porém, quando os juros começarem a cair, o investidor terá esses 17,5% assegurados, já que a taxa paga pelos papéis é prefixada.

André Querne, gestor de fundos da Máxima Asset Management, concorda. Ele explica que os fundos DI e de Renda Fixa são mais interessantes para o investidor mais conservador pois oferecem hoje uma rentabilidade alta a um baixo risco. Para os que gostam de aplicações mais arriscadas, no entanto, a atratividade é maior nos fundos multimercado.

¿ No fim do ano passado, a maioria dos gestores acreditava que as altas de juros havia terminado e isso prejudicou a maioria dos multimercado.

Não foi o caso na Máxima, cujo fundo High Yield subiu 21% em 2004 e 1,9% em 2005. No mesmo período, os multimercado subiram, na média, 16,61% e 1,24%, respectivamente.

Sérgio Lima, gestor de fundos de Renda Fixa da Mellon Global Investments Brasil, também acredita que, a médio e longo prazos, os fundos multimercado tendem a superar os ganhos dos DI e renda fixa:

¿ Em geral, o DI rende pouco mais que o CDI e não há como ganhar muito mais que isso. Já o multimercado tem gestão ativa, em que o gestor procura as melhores oportunidades do mercado, daí a rentabilidade historicamente bem mais alta que a dos fundos DI. Por isso, acredito que mesmo o mais conservador dos multimercado será melhor opção de investimento na comparação com os fundos conservadores em 2005.

¿Juros devem continuar alto por um bom tempo¿

Renato Ramos, diretor de Renda Fixa do HSBC Asset, discorda. Para ele, fundos de renda fixa com gestão ativa ¿ ou seja, em que o gestor pode comprar não apenas papéis prefixados mas também com rendimento pós-fixado ¿ tendem a ter bom desempenho:

¿ São fundos que dão mais liberdade para o bom gestor investir em títulos que podem trazer retorno mais alto, dependendo do cenário. Além disso, o juro deve continuar alto por um bom tempo, beneficiando esse tipo de aplicação.