Título: FUNDAMENTALISTAS GANHAM TERRENO EM IRAQUE E IRÃ
Autor:
Fonte: O Globo, 14/02/2005, O Mundo, p. 19

O resultado das recentes eleições no Iraque ¿ com a esperada vitória da maioria xiita ¿ e a perspectiva de um dos líderes religiosos de linha-dura, igualmente xiita, vencer a eleição presidencial no Irã em junho próximo estão causando calafrios no governo dos Estados Unidos.

Basra, no sul do Iraque, está se mostrando uma concreta manifestação de que a democracia que o presidente George W. Bush pretendia instalar no Iraque poderá, na verdade, vir a ser uma nova teocracia.

A cidade vem sendo transformada num feudo islâmico, com milícias impedindo a venda de bebidas alcoólicas e ameaçando mulheres que ousam sair às ruas sem cobrir a cabeça. Os clérigos islâmicos já abriram o jogo:

¿ O conselho da marajaiya (entidade que reúne os líderes religiosos) aos EUA é que respeitem o desejo da marajaiya e o do povo na hora em que a nova Constituição for escrita ¿ advertiu, dias atrás, o xeque Abbas Khalifa, principal auxiliar do aiatolá Muhammad Yacoubi, um dos clérigos mais ativistas da região.

No Irã, dois pré-candidatos da linha-dura vêm obtendo maior simpatia do eleitorado do que um terceiro, aliado do atual presidente, Mohammad Khatami, um reformista de posições moderadas que está impossibilitado por lei de concorrer pela terceira vez.

O dilema maior dos EUA é a significativa influência do Irã sobre os líderes religiosos xiitas que, aos poucos, vão firmando posições no Iraque, sob o comando do grande-aiatolá Ali al-Sistani:

¿ Os grandes-aiatolás iraquianos vão pressionar muito para que a charia (lei islâmica) prevaleça na nova Constituição. Eles insistirão: não têm pressa, são pacientes ¿ disse Juan Cole, especialista no assunto e professor de história na Universidade de Michigan.