Título: Quarenta pessoas juradas de morte no Pará estão sem proteção especial
Autor:
Fonte: O Globo, 15/02/2005, O País, p. 3

Quarenta pessoas estão juradas de morte em três regiões do Pará, com seus nomes nas mesmas listas onde aparecia o nome da freira americana Dorothy Stang, morta no sábado. Ainda sem nenhuma proteção especial, os ameaçados vivem um misto de pavor e revolta. A freira era a única pessoa conhecida nas listas e seu assassinato é interpretado com um desafio dos grileiros da Amazônia Legal ao governo federal: matarão mais para não haver reforma agrária nem desenvolvimento sustentável no Pará.

CPT: 25 pistoleiros estão soltos no Pará

Levantamento parcial da Comissão Pastoral da Terra (CPT) revela as listas de marcados para morrer nas regiões Sudeste, Oeste e parte do Sul do Pará. Outro levantamento indica que pelo menos 25 pistoleiros que já cometeram crimes contra ativistas estão soltos no Pará.

¿ Se mataram uma ativista americana famosa, imagina o que farão conosco, pobres e desconhecidos brasileiros no meio de uma floresta devastada ¿ disse Maria Joel Dias da Costa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rondon do Pará.

Maria Joel é a única jurada de morte do Pará que tem alguma proteção: um policial militar voluntário, que a acompanha em meio período. O marido de Maria Joel e um diretor do sindicato já apareceram nas listas e foram assassinados. Nenhum mandante foi preso e vários processos dos casos desapareceram em Rondon do Pará.

Ainda excluído do levantamento geral da CPT, o presidente da Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura), Antonio de Souza Carvalho, o Cajazeira, mora em Belém, a 500 km de Rondon e de Anapu, onde a freira foi morta, mas também tem sido ameaçado por pistoleiros. O líder tem recebido telefonemas, recados e a última ameaça veio por meio de uma mulher, contratada para namorá-lo e levá-lo a uma emboscada.

¿ A gente não tem proteção e vai ficando mais velhaco para se proteger. Desmascarei a mulher. Com mais este assassinato, ficamos mais nervosos, mas ainda temos coragem.

As ONGs que atuam na região dizem que pressionarão o governo para que não recue de seus planos de reforma agrária e de desenvolvimento sustentável na Amazônia Legal, como fez há menos de duas semanas com os madeireiros do Pará.