Título: Operação de guerra para eleger Greenhalgh
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Fonte: O Globo, 15/02/2005, O País, p. 9

O Palácio do Planalto e o PT montaram uma operação de guerra na reta final da campanha pela presidência da Câmara. Em conversas no celular, nos cantos do Congresso, nos ministérios, em quartos de hotel, restaurantes e nos chamados ¿confessionários¿ dos gabinetes de líderes, as negociações foram intensas.

Para garantir a vitória do candidato oficial do PT, deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), a tropa do governo negociou liberação de verbas, cargos, ministério e ameaçou com retaliação aliados que já ocupam postos no governo.

Governo acena com liberação de emendas

De acordo com o balanço feito pelo chefe da Casa Civil, José Dirceu, com deputados petistas, o PT deve perder 15% dos cargos no governo para ceder aos aliados nas negociações. A culpa, dizem, é de Virgílio Guimarães (MG), o candidato dissidente do PT.

¿ A aventura de Virgílio vai nos custar 15% dos cargos no governo ¿ disse Dirceu irritado, segundo deputados petistas presentes a um encontro do PT nos últimos dias.

As conversas sobre liberação de emendas de parlamentares ao Orçamento concentraram-se nos restos a pagar de 2004 que ainda não foram empenhados, em torno de R$4,8 bilhões.

Entre os acordos firmados horas antes da votação, um dos que mais chamaram a atenção foi o fechado por Greenhalgh com a bancada ruralista para que seja flexibilizada a proposta de emenda constitucional (PEC) do trabalho escravo, bandeira abraçada com paixão pelo petista nos últimos dois anos. O deputado Paulo Rocha (PT-PA), relator da proposta, confirmou a promessa, acrescentando que a mudança vai acontecer ou na PEC ou no Código Civil.

¿ Defendo a reforma agrária na ordem e na lei, não me aproximo de baderna ou depredação de propriedades. Vou tratar o agronegócio com carinho ¿ disse Greenhalgh, segundo ruralistas.

Genoino, Delúbio, Pereira e Sereno na tropa do PT

O Planalto também jogou pesado com o PP, por conta da candidatura avulsa de Severino Cavalcanti (PP-PE), que ameaçava levar a disputa para o segundo turno. O líder do partido na Câmara, José Janene (PR), foi ameaçado de perder cargos na Petrobras e no IRB (Instituto de Resseguros do Brasil). Até a nomeação do deputado Pedro Henry (PP-MT) para o Ministério dos Esportes foi colocada em jogo: se o PP não assegurasse pelo menos 25 votos, não teria o cargo. No fim da manhã de ontem, o Planalto contabilizava 27 votos pró-Grenhalgh no PP.

A tropa de choque do PT contava, além do presidente do partido, José Genoino, com o secretário-geral, Silvio Pereira, o tesoureiro, Delúbio Soares, e o secretário de Comunicação da Executiva Nacional, Marcelo Sereno. A primeira retaliação concreta do Planalto poderá sair na edição de hoje do Diário Oficial, com a destituição dos deputados Virgílio Guimarães (PT-MG) e João Leão (PT-BA), que apoiou Virgílio, dos cargos de vice-líderes do governo na Câmara.