Título: ENCONTRO DE LULA E CHÁVEZ É `ALIANÇA PROFUNDA¿
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Fonte: O Globo, 15/02/2005, O País, p. 13

Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Venezuela, Hugo Chávez, procuraram dar ao encontro de ontem, em Caracas, a dimensão de um marco histórico na relação entre os dois países. A aliança estratégica, concretizada com a assinatura de duas dezenas de documentos de cooperação entre os governos e empresas, prevê a construção de uma fábrica de aviões na Venezuela e de uma refinaria no Brasil. Entre os acordos está a aquisição, pela Venezuela, de 12 aviões AMX-T, que serão usados em treinamento de combate. Em discurso na abertura do Encontro Empresarial Brasil-Venezuela, no Palácio Miraflores, Lula e Chávez destacaram os acordos como um passo importante para a integração do continente latino-americano e a redução da dependência dos países desenvolvidos.

¿ Não é mais uma reunião entre Lula e Chávez. É a concretização dos que lutaram pela libertação do Brasil e da Venezuela, tornando-as nações livres e autônomas, e sonharam com a autodeterminação de seus povos. Uma aliança estratégica profunda ¿ disse Lula.

Ao garantir que a prioridade número um de seu governo é a integração com a América Latina, o presidente do Brasil disse que a aliança fará os negócios entre os dois países crescerem de US$1,6 bilhão no ano passado para US$3 bilhões em 2005. Foram assinados acordos em 13 áreas. Na mais importante delas, o setor de energia, petróleo e gás, foram 15 atos de cooperação.

A aliança estratégica entre os dois países prevê parcerias e ações conjuntas na defesa da Amazônia, energia elétrica, exploração de petróleo e gás, petroquímica, produção de etanol e biodiesel, mineração de carvão, siderurgia, ciência e tecnologia, infra-estrutura, promoção comercial, telecomunicações, comunicação social, pesca e desenvolvimento agrário. O fundo que financiaria alguns dos projetos ainda não saiu por falta de consenso entre as partes.

Lula destacou em seu discurso o crescimento recorde da produção industrial brasileira. Ele criticou seus antecessores, que ¿por motivos eleitorais¿ não tiraram proveito de outros bons momentos da economia e disse que o Brasil precisa de um novo ciclo de crescimento:

¿ O Brasil necessita de um ciclo que dure de dez a 15 anos, mas que seja constante. Somente assim, iremos pagar a dívida social que temos com nosso povo e que eu, particularmente, tenho compromisso de pagar.

Lula e Chávez mobilizaram seus assessores para dar à visita ares de grande acontecimento. Na chegada da comitiva brasileira, Chávez foi ao Aeroporto Internacional Simon Bolívar e recebeu Lula na porta do avião, enquanto canhões davam salvas de festin. Numa gafe, o brasileiro desembarcou usando calça jeans e jaqueta, e passou as tropas da guarda de honra em revista. Ontem, Chávez usou a frase de Lula sobre a fome em seu discurso e ouviu do presidente brasileiro elogios ao plebiscito que o confirmou no poder e a forma como conduziu a crise com a Colômbia.

Chávez disse que, diante dos avanços do mundo, é fundamental acelerar a marcha pela integração na América Latina, mesmo que isso represente pagar mais, a curto prazo. Ele garantiu que a Venezuela pretende priorizar os seus vizinhos e citou o acordo com o Brasil para a produção anual de 30 mil barris de etanol e a compra de novilhas do Brasil, Colômbia e Argentina para o rebanho de seu país.

¿ Em vez de Estados Unidos e Europa, Brasil, Argentina e Colômbia. Mesmo que saia mais caro, é preciso dar prioridade. Não é negócio de um dia. Os ganhos virão no longo prazo ¿ disse Chávez.

¿ A solução não está no Norte, além do oceano, mas na nossa integração ¿ afirmou Lula.