Título: PM É CRITICADA NA ILHA GRANDE
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Fonte: O Globo, 15/02/2005, Rio, p. 14
O episódio envolvendo o casal de suecos que acusa dois PMs de furtar R$400 de sua bagagem, em 28 de janeiro, dentro do posto de policiamento da Ilha Grande, trouxe à tona uma prática já denunciada por comerciantes locais: a ostensiva abordagem policial de turistas na chegada ao porto da Vila do Abraão, principal porta de entrada do paraíso ecológico. O problema motivou, no ano passado, um abaixo-assinado que mobilizou pelo menos 200 comerciantes da ilha, alertando autoridades para a prática. De lá para cá, o número de reclamações diminuiu, até que os comerciantes foram surpreendidos pela denúncia dos suecos.
No abaixo-assinado, eles pediam uma mudança na conduta policial e pleiteavam um destacamento com PMs bilíngües. Depois do protesto, o então comandante do 4ª Companhia do batalhão de Angra dos Reis, major Maurício, foi transferido para a 2ª Companhia do Interior, em Volta Redonda. De acordo com a PM, a medida foi de rotina, nada tendo a ver com o abaixo-assinado.
Segundo comerciantes, a rigorosa revista causa constrangimento aos turistas. Ana Maria de Carvalho Cardoso, dona da pousada Ancoradouro e presidente da Associação dos Meios de Hospedagem da Ilha Grande, diz que já soube de casos em que visitantes foram obrigados a tirar a roupa numa sala enquanto os policias procuravam por drogas, mas até então ela ainda não tinha ouvido falar em furto. O estudante sueco David Hellkvist, de 27 anos, que acusa PMs de furto, passou pelo vexame de ficar nu.
¿ Queremos que a polícia mude a postura. Quem passa por isso não volta e não recomenda ¿ disse Ana.
Dono de camping quer PMs especializados e que falem inglês
Nelson Palma, dono de um camping e editor do jornal comunitário ¿Eco¿, afirma que o maior problema é o despreparo da polícia. Ele acha que a revista é necessária para coibir a entrada de drogas na ilha, mas gostaria que a troca de soldados da 4ª Companhia não fosse tão freqüente:
¿ O cidadão não tem tempo para conhecer o policial. Não adianta mandar soldados que operam em morros no Rio. Tem que ser um PM especializado e que fale inglês.
Anteontem à tarde, David Hellkvist e sua namorada, Hanna Hirasawa, de 26, foram assistir ao jogo Botafogo x Americano, no Maracanã. Segundo uma amiga brasileira dos suecos, que não se identificou, o casal foi sozinho ao estádio, sendo orientado a ficar junto à torcida botafoguense. David e Hanna também queriam visitar uma favela, mas não tiveram tempo: eles foram embora ontem.
¿ Eles vão embora frustrados porque não identificaram o outro PM. Estão dispostos a colaborar com as investigações, mas acham que não vão dar em nada. A polícia não pediu o e-mail deles para mandar o retrato falado do outro suspeito ¿ disse a amiga.
Segundo o tenente-coronel Paulo Ricardo Paul, da Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM), onde foi instaurada sindicância, as investigações prosseguirão.