Título: CASTIGO PARA A BANDA PODRE
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Fonte: O Globo, 15/02/2005, Rio, p. 14

Na rotina das polícias Civil e Militar nos últimos seis anos, um número impressiona ¿ e não é o de bandidos presos: a cada semana, a Secretaria de Segurança Pública teve que expulsar três policiais dos seus quadros. De 1999 a 2004, foram demitidos, seja por terem cometido homicídio, roubo, extorsão ou outros crimes, 950 maus policiais (um a cada 2,3 dias). A maioria dos bandidos usa farda azul: 796 homens perderam o emprego na Polícia Militar (o equivalente a 2,09% do efetivo de quase 38 mil homens). A Polícia Civil perdeu 154 agentes.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública, nunca houve tanto rigor com os maus policiais como nos últimos seis anos. Mas para o sociólogo Gláucio Soares, professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro (Iuperj), a expulsão de 950 policiais no período não mostra apenas o esforço das corregedorias de polícia. É um sinal também de até onde chega a corrupção dos policiais:

¿ É louvável expulsar mil policiais, mas esse número mostra que há uma quantidade enorme de corruptos. O problema está longe de ser resolvido. A situação está catastrófica, incivilizada, com turistas sendo atacados ¿ diz o professor, lembrando o caso do casal de suecos que acusa PMs de terem furtado deles R$400 durante uma revista na Ilha Grande. ¿ Nos Estados Unidos, policiais agiam assim, no Sul, nas décadas de 20 e 30, e o país até hoje se envergonha disso.

Começa julgamento de PM acusado de mortes no Borel

Apesar de a Secretaria de Segurança Pública ter divulgado a expulsão de 950 policiais de 1999 a 2004, uma reportagem do GLOBO, em janeiro do ano passado, mostrou que, em 2003, 65 PMs expulsos haviam voltado à corporação, sendo que 45 deles por determinação do comandante-geral na época, coronel Renato Hottz. Ontem, a assessoria de comunicação da secretaria disse não ser possível concluir em pouco tempo o levantamento de quantos dos 950 policiais voltaram ao trabalho, já que seria preciso analisar caso por caso.

Um dos crimes cometidos por PMs começou a ser julgado ontem no 2º Tribunal do Júri: Rodrigo Lavandeira Pereira foi acusado, com mais 15 PMs, de ter executado quatro pessoas durante uma operação em abril de 2003 no Morro do Borel, na Tijuca. Na época, os policiais alegaram que as vítimas eram traficantes, mas nenhuma delas tinha antecedentes criminais. Em depoimento que durou cerca de quatro horas, Lavandeira recordou o dia da incursão no morro, mas disse não se lembrar de onde vieram os disparos.

O PM declarou que, durante o confronto, ocorreram explosões de granadas artesanais. Ele afirmou que encontrou junto às vítimas artefatos de fabricação artesanal. Um outro policial acusado do mesmo crime, Sidnei Pereira Barreto, foi julgado e absolvido no dia 28 de outubro de 2004. Até o fim da noite de ontem, o julgamento não havia terminado.