Título: INFLAÇÃO COM SINAIS TROCADOS
Autor:
Fonte: O Globo, 15/02/2005, Economia, p. 21

Aqueda no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 0,86% em dezembro para 0,58% no mês passado, conforme informou ontem o IBGE, ficou dentro das expectativas do mercado, mas deixou os analistas preocupados. A taxa, que serve de parâmetro para o sistema de metas de inflação do governo, acumula alta de 7,41% nos últimos 12 meses, índice que vem se mantendo próximo desse percentual desde julho. O recuo do IPCA deveu-se ao fim do impacto da alta dos combustíveis do ano passado. Também contribuíram reduções nos preços das passagens dos ônibus urbanos e altas menores nos preços das roupas.

¿ Mesmo em um nível elevado, a queda na cotação do dólar vem contribuindo para conter a taxa, mas os altas do aço e de preços administrados têm feito o índice se manter próximo de 7% há meses ¿ disse Eulina Nunes, gerente do Sistema de Índice de Preços do IBGE.

A preocupação dos economistas se concentra nos núcleos de inflação, cálculos que tiram do índice as maiores e menores variações. Esses cálculos mostram a mesma resistência em ceder que o IPCA acumulado nos últimos 12 meses. Nessa medida, a taxa pouco baixou de dezembro para janeiro: na média passou de 0,67% para 0,60%.

¿ Esse percentual indica uma inflação anualizada de 7,5%, bem acima da meta de 5,1% estipulada pelo governo ¿ afirmou Elson Teles, da gestora de recursos Fides.

Alta de juros é dada como certa

Outro motivo de preocupação vem dos preços livres (os que excluem as tarifas públicas e itens como gasolina). A taxa não se mexeu: 0,62% em dezembro e 0,61% em janeiro. O recuo do IPCA em janeiro foi provocado pelos preços administrados. Sem a pressão da gasolina, que subira 5,06% em dezembro e ficou estável em janeiro, a inflação dos administrados caiu de 1,43% para 0,51%. Mesmo com a elevação de 1,23% na energia elétrica.

¿ A alta de meio ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) é certa. A dúvida vai ficar em relação a março. Se a inflação continuar em queda em fevereiro e a atividade econômica desacelerar, o Banco Central (BC) pode se dar por satisfeito com o ajuste feito até agora ¿ disse Teles.

Essa elevação prevista para amanhã, na reunião do Copom, fará a taxa básica de juros subir de 18,25% para 18,75%. Essa alta também acontecerá na opinião do professor da PUC Luiz Roberto Cunha. Para ele, os números da inflação em janeiro não foram bons. Ele chamou a atenção para os reajustes observados nos bens duráveis. Carros, móveis e eletrodomésticos subiram em média 0,94% em janeiro, mais que o dobro da taxa captada em dezembro de 0,41%:

¿ O crédito em consignação com desconto em folha e o aumento dos prazos de financiamento provocaram uma mudança estrutural no crédito no Brasil. A política monetária, com alta de juros, está tendo o efeito menor que o esperado.

Mesmo levando em conta o choque de custos, com a alta do aço, há, segundo o economista, uma demanda aquecida que está permitindo o repasse para os preços no varejo.

Educação, a pressão em fevereiro

Mas, em fevereiro, a expectativa do economista da PUC é de queda da inflação frente a janeiro. A alimentação que subiu de 0,65% para 0,78% não deve se manter em alta. Eulina, do IBGE, disse que os reajustes nesse grupo não foram generalizados:

¿ As carnes que vinham aumentando, subiram pouco. As chuvas prejudicaram as plantações de algumas hortaliças.

E as liquidações de verão, que fizeram os artigos de vestuário descerem de uma alta de 1,59% em dezembro para 0,23% no mês passado, devem continuar. Os descontos levaram a comerciante Paola de Luca a engordar o presente do namorado. Planejava comprar duas peças e levou sete, duas para ela, na Sandpiper, no Shopping Tijuca:

¿ Os preços estão em torno de 15% menores. Comprei sete peças e paguei R$162 em duas vezes.

A educação que vai ser captada em fevereiro pelo IPCA será o único impacto este mês. O economista da PUC acredita, no entanto, que as altas serão pequenas, farão com que o índice seja menor em fevereiro.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a variação de preços de famílias que ganham até oito salários-mínimos ficou em 0,57% contra 0,86% de dezembro.