Título: BANCO MUNDIAL: AMÉRICA LATINA NÃO INVESTE DEVIDAMENTE EM AGRICULTURA
Autor:
Fonte: O Globo, 15/02/2005, Economia, p. 22

Em seu mais recente estudo sobre a América Latina, divulgado ontem, o Banco Mundial (Bird) mostra que os governos da região ainda não perceberam que a agricultura é um setor que pode contribuir decisivamente para uma significativa redução da pobreza. ¿Esses países precisam investir mais e melhor nas comunidades rurais, pois a sua contribuição econômica ao desenvolvimento nacional é duas vezes maior do que se acredita oficialmente¿, alerta o informe do Bird.

A instituição afirma que a agricultura ¿não é tão a favor dos pobres, quando comparada ao crescimento não-agrícola¿, e destaca a falta de atenção à agricultura com base num fato inimaginável: o de que os governos sequer sabem exatamente qual é a população rural de seus países. Os economistas do Bird descobriram que ela é maior do que mostram as estatísticas oficiais: 44%, e não 22% como se estima oficialmente.

Investimentos no setor se limitam a grupos específicos

Com base nessa simples aritmética, os técnicos do Bird concluíram que a contribuição do setor para o desenvolvimento nacional poderia ser duas vezes maior, se fossem aplicados na agricultura os recursos necessários:

¿ A produtividade agrícola cresceria significativamente se houvesse um maior e melhor investimento no setor. A sua contribuição para o desenvolvimento na América Latina pode ser maior do que nós geralmente acreditamos. A maioria dos países na região está falhando em proporcionar a mescla correta de políticas públicas no espaço rural, tanto do ponto de vista do crescimento quando da perspectiva de redução da pobreza ¿ avaliou o economista-chefe do Bird para a América Latina, Guillermo Perry, ao divulgar o informe ¿Além da cidade - a contribuição rural para o desenvolvimento¿.

Segundo o estudo, os gastos públicos ¿ainda tendem a beneficiar mais as atividades urbanas do que as rurais¿, e o dinheiro aplicado no setor agrícola é menor do que a sua própria contribuição ao desenvolvimento. ¿Isso acontece porque uma parte substancial dos gastos rurais é feita na forma de subsídios a grupos específicos de produtores, em vez de eles serem investidos no fornecimento de bens públicos, como educação, saúde, proteção social, infra-estrutura rural, pesquisa e desenvolvimento, e programas específicos contra a pobreza¿, diz o estudo elaborado pelo Bird.

Reformas agrárias na região foram ineficazes

Os pesquisadores da instituição concluíram, ainda, que as reformas agrárias já realizadas nos países da América Latina foram ineficazes. E o motivo básico foi que essas reformas se limitaram à distribuição de terras:

¿ Além disso é preciso dar aos pobres o acesso ao crédito, à assistência técnica, à educação, aos mercados. É preciso construir estradas para que a sua produção seja escoada ¿ disse Perry.

O estudo mostra que embora as atividades rurais signifiquem apenas 12% do Produto Interno Bruto (PIB) regional, seu efeito no crescimento nacional e na redução da pobreza é quase duas vezes maior ¿devido às suas posteriores ligações a outras atividades econômicas e à sua alta contribuição às exportações¿. Para cada ponto percentual de expansão do setor rural, há um aumento de 0,22% no PIB nacional e de 0,28% na renda das famílias mais pobres ¿ índices que, segundo Perry, causam um impacto significativo na melhoria do padrão de vida.

¿ Isso, afinal, representa mais do que o dobro do aumento que se espera hoje (0,12%) para o setor agrícola no PIB ¿ disse o economista.