Título: DÓLAR TEM A MENOR COTAÇÃO DESDE 2002: R$2,58
Autor:
Fonte: O Globo, 15/02/2005, Economia, p. 23

O dólar comercial fechou abaixo de R$2,60 pela primeira vez desde 4 de junho de 2002. Ontem, a moeda caiu 0,92% e fechou a R$2,58. A trajetória de queda se manteve durante todo o dia e ficou ainda mais forte após o leilão de compra de dólares, por R$2,584, feito pelo Banco Central (BC) à tarde. Segundo analistas, isso teria ocorrido porque as instituições que não conseguiram vender moeda à autoridade monetária acabaram oferecendo recursos no mercado à vista.

¿ Nada segura o dólar, porque ninguém quer a moeda nas mãos. É um ativo que tem espaço para cair mais ¿ disse Hideaki Iha, profissional de câmbio da corretora Souza Barros.

A queda do dólar ontem no país foi atribuída principalmente à tendência de desvalorização da moeda no mercado internacional. O euro subiu 0,8% frente ao dólar, para US$1,2968. Já em relação à moeda japonesa, o dólar caiu 0,5%, para 105,14 ienes. Também contribuiu para a queda no mercado brasileiro a expectativa de alta dos juros básicos da economia (Selic), de 18,25% ao ano para 18,75% anuais, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que começa hoje e termina amanhã. Com os juros mais altos, aumenta o ingresso de dinheiro no país, em busca de ganhos expressivos, o que eleva a oferta de dólares e leva a cotação a ceder ainda mais. O risco-país caiu 0,49%, para 402 pontos centesimais.

`Focus¿ mostra inflação ainda acima da meta do governo

No mercado futuro de juros, em que os investidores negociam contratos com apostas de taxas para os meses seguintes, houve alta generalizada. As operações na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) reforçaram as projeções de um aumento de 0,50 ponto percentual na Selic, com possibilidade de repetição desse ajuste em março, o que elevaria a taxa para 19,25% ao ano.

De acordo com as projeções de ontem, a aposta média na BM&F era de uma alta de 0,56 ponto percentual na Selic. Os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em julho fecharam com taxa de 19,17% ao ano, contra 19% na sexta-feira. O DI com vencimento em janeiro de 2006, o mais negociado, teve a taxa elevada de 18,69% para 18,95% anuais.

As expectativas do mercado também foram confirmadas pelo relatório ¿Focus¿, do BC, pesquisa feita semanalmente com analistas. O boletim mostrou que o mercado reduziu ligeiramente ¿ de 5,75% para 5,74% ¿ a expectativa para este ano do IPCA, índice que orienta o sistema de metas de inflação do governo. Como o BC persegue uma meta de no máximo 5,1%, a previsão de índice acima deste patamar mostra que os juros deverão continuar em alta para segurar a inflação.

Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) interrompeu uma seqüência de seis altas consecutivas e fechou em baixa de 0,52%, com R$1,5 bilhão em negócios. A queda foi liderada pelas ações do setor de energia elétrica, que, na média, caíram mais que o restante.

Preocupação com juros também afetou ações

A maioria dos papéis do setor bancário, porém, escapou das perdas, devido à expectativa de juros maiores.

¿ A queda da bolsa deveu-se principalmente ao objetivo dos investidores de embolsar lucros, mas houve preocupação com os juros básicos ¿ disse Daniel Lemos, analista da corretora Socopa.

Entre as 53 ações que compõem o Ibovespa, as maiores baixas foram de Embratel Participações PN (5,5%) e Klabin PN (5,5%). As altas mais significativas foram de Bradesco PN (5%) e Embraer ON (3,5%).