Título: ESPECIALISTA QUESTIONA SUPERVÍRUS
Autor:
Fonte: O Globo, 15/02/2005, Ciência e Vida, p. 28

O geneticista brasileiro Amílcar Tanuri, que trabalha no Programa Global de Aids do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, considera improvável que o vírus isolado no paciente de Nova York seja de um subtipo mais letal. Para ele, é mais provável que a rápida progressão da doença seja resultado de características do paciente, que o tornariam mais suscetível.

¿ Essa progressão da doença em poucos meses é rara mas existe ¿ sustentou Tanuri. ¿ Estudos mostram que em cada 100 pessoas infectadas, três apresentam uma evolução assim. São os chamados progressores rápidos da Aids. Da mesma forma, de 5 a 10 casos só vão evoluir para a doença depois de 15 anos.

Além disso, lembrou o especialista, o paciente tinha um histórico de uso de drogas, o que poderia debilitar seu sistema imunológico, permitindo uma evolução mais rápida da doença.

Outro fator levantado por Tanuri diz respeito ao fato de o subtipo isolado ser resistente a praticamente todos os medicamentos disponíveis. Segundo o especialista, para se tornar resistente às drogas, o vírus sofre mutações. Essas mudanças, por sua vez, o tornam menos agressivo.

¿ Os vírus resistentes se multiplicam mais lentamente ¿ sustentou. ¿ Há vários estudos comprovando isso.

Tanuri alerta, entretanto, para o fato de vírus resistentes a medicamentos estarem se disseminando. Nos EUA, aponta, de 40% a 50% dos subtipos circulantes apresentam alguma mutação de resistência. No Brasil, estudo divulgado ontem pela USP indica que esse percentual seria de 37%.

¿ A principal mensagem é que se vírus resistentes estão se alastrando é porque pessoas que tomam remédio têm relações sem proteção ¿ lembra. ¿ Precisamos aumentar a prevenção.