Título: A AMEAÇA dos déficits
Autor:
Fonte: O Globo, 15/02/2005, Especial, p. 3

PERIGOS EXTERNOS. O resultado fiscal e de contas externas americanas e o preço do petróleo podem ser entraves ao crescimento global. Na América Latina, preocupação é com as eleições

O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que a economia mundial em 2005 poderá apresentar níveis de crescimento semelhantes aos registrados em 2004 ¿- em torno de 5% ¿ mas considera que há um risco principal que pode pôr tudo a perder: os déficits fiscal e em conta corrente dos Estados Unidos. Segundo o vice-diretor-gerente do FMI, o economista mexicano Agustín Carstens, se esse desequilíbrio não for atenuado, pode haver uma depreciação do dólar em relação a outras moedas ainda maior que a atual, além da adoção de políticas monetárias mais restritivas por parte do Fed (o banco central americano), o que poderia gerar turbulência financeira nos mercados mundiais.

Carstens falou sobre ¿A economia mundial¿ no seminário de ontem. Segundo ele, na avaliação do Fundo, para evitar a ocorrência desses riscos é necessário adotar uma política de enfoque cooperativo entre os países de Ásia, Europa e EUA, acrescentando que o compromisso do presidente George W. Bush de adotar medidas para reduzir o déficit do país à metade durante seu segundo mandato foi muito bem recebido pelo organismo internacional.

No caso da Europa, o FMI acredita que o mais importante serão as reformas estruturais, com a abertura maior do setor de bens e serviços. Em relação à China, Carstens afirma que, este ano, o gigante asiático deveria promover maior flexibilidade cambial, enquanto o Japão deveria adotar medidas que contribuam para apressar a recuperação de sua economia.

Carstens acredita também que o alto preço do petróleo deve ser um dos grandes problemas para a economia mundial em 2005, principalmente para os EUA, pressionado pela falta de capacidade de refino. Mas, apesar disso, o panorama para a economia global é favorável e a América Latina poderá, de alguma forma, se beneficiar disso, já que o restante do mundo é muito mais afetado pelos altos preços da commodity.

¿ O fundamental é que os países continuem promovendo reformas estruturais para detonar o crescimento ¿ disse.

Ao citar o extraordinário crescimento mundial em 2004, o vice-diretor-gerente do FMI disse que este deveu-se, em boa parte, às políticas fiscais e expansionistas adotadas ao longo do ano, acrescentando ¿que as maiores contribuições vieram dos países emergentes da Ásia e dos países industrializados, principalmente os EUA¿.

Segundo ele, a América Latina também fez a diferença, estimulada, principalmente, pelo setor exportador de países como México, Brasil e Argentina. No entanto, ele alertou para a vulnerabilidade na região, principalmente pelo número de eleições previstas, o que pode ¿trazer uma certa interrogação em relação aos rumos a seguir¿.

Em relação ao Brasil, o vice-diretor-gerente do FMI disse que o organismo internacional está pronto para trabalhar com o governo e fechar um novo acordo, caso ¿este ache necessário¿, lembrando que, há alguns anos, o país não tinha essa opção. Segundo ele, novos programas com o país seriam apenas de natureza preventiva, ¿para ajudá-lo a consolidar sua estrutura macroeconômica¿.

¿ A decisão está nas mãos das autoridades do país ¿ concluiu Carstens.