Título: CRESCIMENTO assegurado
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Fonte: O Globo, 15/02/2005, Especial, p. 4

Para o economista do Bird Otaviano Canuto, o cenário externo não deve prejudicar o crescimento brasileiro. O grande risco é a alta dos juros nos Estados Unidos

Mesmo com uma economia global mais desaquecida em 2005 que no ano passado, o cenário externo não deve afetar o crescimento brasileiro. A avaliação é de Otaviano Canuto, representante do Brasil no Banco Mundial (Bird), que participou ontem do seminário ¿Cenários da economia brasileira e mundial em 2005¿. O economista ¿ que integrou a equipe do ministro Antonio Palocci na Fazenda ¿ prevê um crescimento mais moderado da economia mundial este ano. Canuto fez a palestra ¿O cenário externo e a economia brasileira¿.

¿ Após um crescimento fenomenal em 2004, o ano de 2005 será de desaceleração ¿ disse. ¿ O comércio mundial vai continuar a crescer, mas deve cair dos 11,4% do ano passado para cerca de 7% em 2005.

Os grandes riscos externos para o crescimento econômico global e do Brasil em 2005 são o ajuste na economia americana, a desaceleração da economia chinesa e o preço do petróleo.

¿ Dá para ser relativamente otimista quanto a dois dos três grandes riscos: o petróleo e China ¿ afirmou Canuto.

Segundo o economista, a valorização do real frente ao dólar não deve comprometer substancialmente o superávit da balança comercial, pois fatores estruturais deverão sustentar as exportações brasileiras. Canuto afirma que a demanda por produtos brasileiros, principalmente commodities, deverá continuar alta mesmo com a desaceleração da economia chinesa. Além disso, a diversificação dos mercados para os quais o Brasil exporta também contribuirá para a manutenção do superávit.

¿ Tudo isso joga caldo de galinha, precaução, naqueles que acham que o saldo comercial brasileiro vai se deteriorar substancialmente este ano. Estamos vendo que, apesar da mudança de patamar cambial, que já tem algum tempo, o saldo comercial em janeiro continuou surpreendendo ¿ afirmou Canuto.

O presidente da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carlos Ivan Simonsen Leal, também está otimista. Será importante, segundo ele, avaliar o impacto do ritmo menor de expansão global sobre os preços de commodities agrícolas e dos produtos semimanufaturados que o Brasil exporta:

¿ O Brasil ainda tem pouco valor agregado na sua pauta de exportação e é preciso saber que não podemos esperar uma maré favorável para sempre.

Canuto também acredita que o país repetirá um superávit, embora mais modesto, em conta corrente. Ele ressalta que, segundo consultorias especializadas, estão sendo realizadas várias pesquisas de prospecção para futuros investimentos. O economista espera investimentos diretos em torno de US$15 bilhões este ano.

Petróleo deve se estabilizar

Para Canuto, o principal risco de desequilíbrio está nos déficits comercial e orçamentário dos EUA. Mesmo assim, ele prevê que o ajuste se dará de forma gradual e controlada:

¿ Este ano já está mais garantido nos seguintes termos: ninguém está esperando uma resolução imediata.

Canuto estima que o ajuste nas taxas de juros básicos dos EUA (hoje em 2,5% ao ano) só deve terminar no fim de 2005. Ele acredita que a taxa vai fechar o ano entre 3,5% e 4%, para que os juros reais (descontada a inflação) cheguem a 2% ao ano. Segundo Canuto, o mais importante é que os bancos centrais asiáticos continuem a comprar títulos americanos, financiando a dívida dos EUA.

Com relação à China, o economista lembra já existir uma redução gradual do crescimento, que não deve causar fortes efeitos sobre as outras economias. Sobre o petróleo, fora o risco geopolítico, ele acredita que a tendência é de estabilidade.