Título: INDÚSTRIA PEDE REDUÇÃO DAS TAXAS DE JUROS
Autor: Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 15/02/2005, Especial, p. 4

O vice-presidente da Associação Brasileira de Indústria de Base (Abdib), José Luiz Alquéres, disse que a equipe econômica do governo não está sabendo usar a credibilidade já conquistada para poder começar a baixar os juros básicos da economia. Ele lamenta que recentemente o Banco Central não tenha tido espaço para atuar de forma menos rígida e aposta que o Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne a partir de hoje, manterá a taxa em 18,25%. Se pudesse escolher, diz, a taxa cairia três pontos percentuais.

¿ No momento atual, não vejo muito como poderia ser diferente. Mas se analisarmos o histórico das atas do Copom, verificaríamos que ao longo dos últimos dois anos perdemos inúmeras oportunidades de baixar preciosos dois ou três pontos percentuais dos nossos juros. Espero que uma análise crítica do passado faça com que quando melhores condições voltem a se apresentar, o Banco Central e o Copom tenham coragem para baixar esses juros mais rapidamente ¿ disse Alquéres.

Já o ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Economia Mundial da FGV, Carlos Langoni, defende a ação do BC sobre os juros, já que a inflação no Brasil ainda está em patamar muito elevado.

¿ É bom que as pessoas entendam que o Brasil está no incômodo patamar de países com inflação de dois dígitos, com os IGPs na faixa de 12%, 13% ao ano. Mesmo em relação aos preços ao consumidor, a nossa taxa no ano passado, 7,6% no caso do IPCA, é muito mais elevada do que a de economias emergentes bem-sucedidas, como a China, que cresceu 9,4% com uma inflação em torno de 3%; e o Chile, que deve ter crescido 5%, 6%, também como a inflação na faixa de 3% ¿ disse Langoni, em entrevista ao Globo Online.

O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, também considera a inflação um risco:

¿ Certamente temos que continuar a prestar atenção nesta área, pois é o principal risco ao crescimento.

Para a economista Luciana de Sá, chefe da Assessoria de Pesquisas Econômicas da Firjan, o BC tem dado repetidas indicações, por meio das atas do Copom, de que a busca do crescimento sustentado exigirá uma estabilização efetiva dos preços.

¿ O BC continua a mostrar nas atas do Copom que considera a inflação um risco à estabilização e manterá a política de alta de juros até alcançar o controle. Mas não concordamos e achamos que isso provocará uma desaceleração desnecessária do crescimento ¿ diz Luciana.

Para ela, o que ocorre hoje não é uma inflação de demanda, mas sim repasse de custos, em parte provocada pelos preços administrados. O ideal seria o governo aprofundar a reforma fiscal, defende.