Título: TAXAS DE JUROS unificadas
Autor:
Fonte: O Globo, 15/02/2005, Especial, p. 5

CRÉDITO E INFLAÇÃO. O presidente do BC, Henrique Meirelles, defende unificação de taxas de crédito, afirma que o país está preparado contra choques externos e diz que não se cresce com inflação

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, sugeriu ontem a unificação gradual das taxas de juros destinadas ao crédito, como os empréstimos via BNDES. Segundo ele, isso seria possível com a queda da taxa básica Selic, que após cinco altas consecutivas está hoje em 18,25% ao ano.

¿ A diminuição de vulnerabilidade e risco vão fazer com que as taxas de juros no Brasil tenham uma trajetória cadente e possamos inclusive unificar devagar os diversos mercados de crédito no Brasil, para que todos possam ter taxas similares, seja crédito direcionado, livre, externo. Esse é o caminho que todos estamos seguindo ¿ disse Meirelles, no encerramento do seminário ¿Cenários da economia brasileira e mundial¿.

A questão é polêmica e, na semana passada, provocou mal-estar entre o secretário do Tesouro, Joaquim Levy ¿ também presente no evento de ontem ¿ e o presidente do BNDES, Guido Mantega. Levy defendera que a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) utilizada para correção dos financiamentos do BNDES, estável em 9,75% ao ano desde abril do ano passado, deveria acompanhar a trajetória da Taxa Selic, que está em 18,25% ao ano, em alta há cinco meses. A proposta foi rechaçada por Mantega e pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Ambos disseram tratar-se da opinião isolada de um membro do governo.

`Estou treinado a não indicar nada¿

Na véspera do primeiro dia da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, Meirelles disse que o país está em um momento favorável, mas mostrou-se preocupado com a trajetória da inflação e voltou a defender a política de juros altos inaugurada pelo BC em setembro do ano passado.

¿ Num horizonte de médio e longo prazos, não há país algum que tenha crescido a taxas sustentadas com inflação elevada. Inflação baixa é precondição para o crescimento ¿ afirmou o presidente do BC.

Meirelles comparou o desempenho de sete economias emergentes ¿ China, Cingapura, Coréia, Índia, Chile, Tailândia e México ¿ com o do Brasil no período que vai de 1990 a 2003. Todos, à exceção do Brasil, tiveram uma expansão de até 9,2% do PIB (caso da China), com uma inflação média de até 16% (caso do México). No caso brasileiro, o crescimento verificado no período foi de 1,8%, ante uma inflação de 161,3%.

O presidente do BC minimizou as preocupações de mercado com o impacto sobre a economia brasileira da alta de juros nos EUA, do crescimento menor da China e da alta do petróleo e afirmou que o Brasil está mais resistente a eventuais choques externos.

¿ Há um cenário benigno. Existem riscos, é claro, relacionados principalmente à questão americana, mas estes riscos não devem prevalecer ¿ disse Meirelles, citando o aumento na geração de empregos, os contínuos superávits comerciais e a redução do endividamento do país.

Indagado pela jornalista Míriam Leitão, colunista do GLOBO e mediadora do debate, se os dados não seriam incompatíveis com uma política de juros altos, Meirelles disse que a política monetária do BC tem se provado adequada para o país:

¿ Em vésperas de Copom, não compete ao presidente do Banco Central discutir taxas de juros, apesar da tentação e do apelo emocional normal e irracional também que a taxa de juros exerce ¿ afirmou Meirelles. ¿ A taxa de juros sobe e desce em qualquer país e reage às expectativas dos bancos centrais sobre o comportamento futuro dos preços. Mas, só para deixar claro, eu não estou dando nenhuma dica sobre a reunião do Copom. Só estou dizendo que o Banco Central tem reagido à dinâmica inflacionária. De novo: não há aqui nenhuma dica. Estou já treinado para não indicar nada, a não ser na ata.