Título: INDÚSTRIAS DE BASE TEMEM `ANO MEDÍOCRE¿
Autor:
Fonte: O Globo, 15/02/2005, Especial, p. 6
À espera de mais um ano ¿totalmente medíocre¿ em investimentos, o vice-presidente da Associação Brasileira de Infra-Estrutura das Indústrias de Base (ABDIB), José Luiz Alquéres, disse que a recorrente falta de recursos no setor poderá ameaçar o ciclo de crescimento sustentado, como em 2001, ano do apagão. A crise energética de 2001, lembrou, abortou o início do ciclo de crescimento sustentado e provocou perda do PIB estimada em US$30 bilhões. Desta vez, apesar dos ¿indicadores econômicos maravilhosos¿, acrescentou, há crescente degradação da infra-estrutura, sobretudo de transportes.
¿ Hoje a infra-estrutura de transportes tornou-se fator encarecedor e inibidor do comportamento dinâmico das exportações ¿ disse Alquéres, que participou do debate ¿A perspectiva setorial¿.
Os investimentos em infra-estrutura são decrescentes. Em 2001, foram de US$21 bilhões; e de US$16 bilhões em 2002. Somaram US$7 bilhões no ano seguinte e teriam alcançado US$9 bilhões em 2004. Em conseqüência desse quadro, diz Alquéres, o setor de bens de capital sob encomenda (produtos fabricados ou implantados a longo prazo) recuou 6% entre 2003 e 2004. Para ele, nem a execução das obras do programa de Parcerias Público-Privadas (PPPs) pode ser considerada a redenção da infra-estrutura:
¿ Sua contribuição será limitadíssima.
As montadoras estão menos otimistas sobre o desempenho este ano. E atribuem a desaceleração ao aumento dos custos, com destaque para a carga tributária, alta dos insumos e novo ciclo de encarecimento dos juros. O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb, disse que as exportações vão crescer 7%, somando US$8,9 bilhões (em 2004, subiram 50%, respondendo por 20% do superávit da balança comercial). Ao todo, as vendas totais, incluindo o mercado doméstico, deverão crescer menos ¿ 4%, com 1.640.000 unidades, contra 10,8% no ano passado.
Ele disse que a descontinuidade do crescimento econômico tem feito as montadoras receber menos investimentos das matrizes. Isso, combinado a pressão de custos, acrescentou, afeta a competitividade no plano internacional. Golfarb lembrou que o custo do aço subiu 160% em dois anos, e o do plástico, 96%, ressaltando que o setor respondeu por 11,3% de toda a receita federal e estadual combinada no ano passado. Os preços dos carros subiram 54% no período de dois anos.
Supermercados esperam reação
Já o presidente da Companhia Brasileira de Distribuição (Grupo Pão de Açúcar), Augusto Cruz, afirmou que 2005 será o ano do consumo dos bens não-duráveis. Seu otimismo deve-se à ligeira recuperação da renda dos trabalhadores, ao aumento da oferta de crédito com taxas de juros menores, via desconto em folha de pagamento, e às projeções positivas de vendas de itens como telefones celulares. Em resposta, os investimentos apenas de três grupos hipermercadistas, disse Cruz, vão superar R$1,1 bilhão. O grupo Pão de Açúcar investirá R$500 milhões na abertura de 21 lojas; o Carrefour, R$600 milhões, em 12 novas lojas; e o Wall Mart abrirá também dez unidades. Os grupos vão criar 20 mil novos empregos este ano, previu.