Título: 'Tsunami Severino' surpreende governo e oposição na madrugada
Autor: Maria Lima/Isabel Braga
Fonte: O Globo, 16/02/2005, O País, p. 4

Entre o sonho do PT de continuar presidindo a Câmara com Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e a derrota para Severino Cavalcanti (PP-PE), articuladores dos candidatos entraram num vale-tudo em busca dos votos madrugada adentro. O sistema anacrônico de votação nominal, por cédula, arrastou a eleição por 14 horas.

A votação com chamada dos 513 deputados um a um, que levavam em média três minutos entre a cabine e a urna, foi uma exigência dos adversários de Greenhalgh, entre eles Virgílio Guimarães (PT-MG). Muitos foram vencidos pelo cansaço no meio da madrugada e dormiram sobre as bancadas.

A sessão começou às 16h de segunda-feira e a votação foi iniciada às 18h, mas só de madrugada, sete horas depois, começou a apuração do primeiro turno. Até então os governistas estavam confiantes e contavam com uma vitória por 270 votos. Quando Severino chegou ao segundo turno, a confusão foi total. Ruralistas desistiram de negociar com o governo e avisaram que iriam votar em Severino. O anúncio contaminou aliados, alimentando a onda antigoverno.

- Ninguém segura, virou avalanche - decretou o ruralista Darcisio Perondi (PMDB-RS) .

Virgílio e aliados sequer conversaram com petistas

Virgílio e aliados deixaram o plenário e não quiseram conversa com a turma de Greenhalgh. O líder do governo, Professor Luizinho (PT-SP), corria tonto. Virgílio se refugiou na capela do Senado. Luizinho foi atrás, mas o dissidente não atendeu sequer à ligação do então presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP). Os petistas tentavam se aproximar e negociar o perdão ao mineiro em troca de apoio, mas Virgílio pedia tempo.

Severino, igualmente zonzo, vagava sem rumo, quase carregado por novos e antigos bajuladores, pelos corredores da Casa. Às 3h45m, Virgílio se rendeu e anunciou apoio a Greenhalgh. Mas nem ele deve ter votado no adversário, já que o petista não ganhou mais um voto sequer no segundo turno. Quando Severino ultrapassou Greenhalgh, alguns deputados gritaram:

- Olha a tsunami Severino!

Quando o resultado foi anunciado, Severino já estava na Mesa, cercado de deputados do chamado baixo clero. Cantaram, a capela, o Hino Nacional.