Título: Greenhalgh: 'Perdi, mas a derrota é do governo'
Autor: Maria Lima/Isabel Braga
Fonte: O Globo, 16/02/2005, O País, p. 10

Antes do início do segundo turno, no discurso para pedir votos, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) transferia a responsabilidade de uma provável derrota para o governo. Ontem, em rápida entrevista após a sessão de abertura do ano legislativo, voltou a tocar no assunto:

- Perdi a eleição, mas a derrota é destinada ao governo. O voto que me derrotou foi o da insatisfação com o tratamento dado pelo governo aos parlamentares e o da oposição, que passou por cima dos costumes da Casa, antecipando o processo eleitoral de 2006.

Greenhalgh disse que prefere não eleger culpados, mas avalia que a candidatura avulsa de Virgílio Guimarães (PT-MG) abriu caminho para outras candidaturas avulsas.

- O Poder Executivo tem que rever o tipo de relacionamento que tem com os parlamentares e acho que os líderes têm que rever a relação com suas bancadas. Que partido ganhou a eleição? - disse Greenhalgh.

Na madrugada de ontem, sentado numa cadeira do lado esquerdo do plenário, Greenhalgh tentou aparentar calma. À 1h20m a apuração começou, e Virgílio levou o primeiro voto. Greenhalgh levantou-se e ficou mais perto da Mesa. Ele liderava a apuração, mas a diferença para os outros ficava cada vez mais apertada. O petista deixou então o plenário rumo à liderança do PT. Permaneceu por alguns minutos e logo retornou.

- Que loucura, não? - limitou-se a comentar.

Abatido com o segundo turno, Greenhalgh procurou o PFL, Virgílio e o PSDB. Voltou para a votação com o semblante carregado. Tenso, acompanhou do plenário a apuração e viu Severino disparar. Ouviu João Paulo Cunha anunciar o resultado, mas não esperou a posse de Severino. Saiu do plenário e, ao encontrar amigos e parentes, chamou-os para ir embora. Perguntado sobre o que ocorrera, limitou-se a responder: "Só saberemos daqui a dez anos".