Título: JOBIM: 'VAMOS CUIDAR DE COISAS GRANDES'
Autor: Lydia Medeiros/Luiza Damé
Fonte: O Globo, 16/02/2005, O País, p. 12

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Nelson Jobim, aproveitou ontem a cerimônia de abertura dos trabalhos do Congresso Nacional para fazer um discurso político. Ex-deputado pelo PMDB gaúcho e citado como opção para a disputa presidencial de 2006, Jobim foi à tribuna e, falando de improviso, aconselhou os parlamentares a se ocuparem dos grandes temas nacionais e a não dar importância a coisas pequenas e individuais. Num dia de crise para o governo e seus articuladores políticos, Jobim lembrou palavras do falecido deputado Ulysses Guimarães, ex-presidente da Câmara, para sustentar seu comentário.

- A História, dizia o velho, nos desafia para grandes serviços. Nos acolherá se o fizermos; nos repudiará se deserdarmos. Vamos cuidar de coisas grandes. Fica pequeno quem se envolve com coisas pequenas. O Brasil não perdoará nossa geração, quer ao Poder Executivo, quer aos senhores e senhoras membros do Congresso Nacional, se nos preocuparmos com coisas pequenas e individuais - disse o ministro.

Diante do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), que venceu a eleição com promessas de aumento salarial e vantagens para os colegas, Jobim criticou minorias empenhadas em conquistar mais privilégios.

- O Brasil começou a compreender que a legislação brasileira não é um prego para dependurar privilégios de uma minoria de usurpadores. É, isto sim, um compromisso com as nossas expectativas - afirmou.

Jobim foi deputado na Assembléia Constituinte e ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso antes de chegar ao Supremo. Ontem foi a primeira vez que um presidente do STF discursou em uma cerimônia de abertura das atividades legislativas. Isso ocorreu por conta de um acerto entre o cerimonial do Congresso e do tribunal. Desde o ano passado, o STF celebra com uma solenidade a abertura do ano judiciário. Incluiu no rol de autoridades com direito a discursar na ocasião os presidentes da Câmara e do Senado. Em retribuição, o Congresso deu ao presidente do Supremo a mesma prerrogativa.