Título: LÍDERES APONTAM FALHAS NA COORDENAÇÃO POLÍTICA
Autor: Lydia Medeiros/Luiza Damé
Fonte: O Globo, 16/02/2005, O País, p. 12

A inédita e histórica derrota do governo na eleição para a presidência da Câmara deixou perplexos os líderes da base parlamentar. Depois de uma noite insone, procuravam razões para o resultado que deu a vitória a Severino Cavalcanti (PP-PE) e alimentavam uma única certeza: a necessidade de uma revisão no esquema de coordenação política governista.

- Temos que recomeçar do zero. O governo deve aprender que maioria matemática não resolve. As peças do jogo devem mudar aqui no Congresso - avaliou o vice-líder do governo, Beto Albuquerque (PSB-RS).

Na lista de culpados, o nome do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, foi o mais citado:

- O que o Aldo faz lá? É preciso que alguém escreva sobre isso - provocou o deputado Paulo Bernardo (PT-PR), que incluiu o PT e seus ministros na lista de responsáveis. - O PT cometeu vários erros, e o mote do voto em Severino era contra o governo e contra o PT. As críticas sobre ministros que não conversam, não tratam bem os parlamentares, o gerenciamento das emendas ao Orçamento, isso precisa ser revisto e resolvido. O governo tem de trabalhar. Agora está todo mundo passando sal nas feridas.

Aldo procurou reduzir a importância da derrota e afirmou que a coordenação política é um trabalho conjunto. Assim que acabou a apuração, ligou para Severino e desejou-lhe sorte. Coube a Aldo conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o resultado.

Ele rejeitou o uso da palavra traição para explicar a diferença de votos entre Luiz Eduardo Greenhalgh e Cavalcanti. Tampouco atacou as candidaturas avulsas, como a de Virgílio Guimarães (PT-MG). Disse que na política não há caminho mais fácil, mas caminho possível. E arrematou com poesia, citando o russo Vladimir Maiakovski:

- Morrer é fácil, difícil é a vida e seu ofício.

Genoino não quis comentar o resultado das eleições

A tranqüilidade de Aldo contrastava com o clima na Câmara. O líder do PSB, Renato Casagrande (ES), disse que será impossível tocar a vida parlamentar sem uma avaliação humilde dos equívocos cometidos. Ele criticou a ação do governo ao ajudar a inflar partidos como o PL e o PTB. Segundo Casagrande, ficaram sem amparo legendas mais fiéis, como o PSB e o PCdoB. Ele considerou um erro do governo insistir em distanciar o ministro José Dirceu das articulações políticas:

- Não adianta esconder o ministro. Dirceu e Aldo são articuladores e os dois deveriam ter tarefas claras. Há um processo autofágico no governo.