Título: Mais dois trabalhadores são mortos no Pará
Autor: Jaílton de Carvalho/Rodrigo
Fonte: O Globo, 16/02/2005, O País, p. 14

Mesmo diante da forte repercussão da morte da freira Dorothy Stang, pistoleiros voltaram a agir e mataram ontem a tiros o ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Parauapebas, no Pará, Daniel Soares da Costa Filho, e o colono Carlos Branco, encontrado morto perto do lugar onde a missionária foi assassinada. Com isso sobe para quatro o número de pessoas ligadas a conflitos agrários mortas no Pará nos últimos três dias.

- Não tenho alucinação de achar que esses assassinatos estão articulados, mas essas mortes são uma constante. Está acontecendo o que sempre aconteceu no Pará - protestou o presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), dom Tomaz Balduíno.

Segundo a Polícia Federal, Daniel Soares foi assassinado no final da manhã, quando viajava de moto de Parauapebas até o assentamento Carlos Fonseca, a cinco quilômetros de distância da cidade. Dois homens, que estavam em outra moto, perseguiram o sindicalista e dispararam seis tiros contra Soares. Segundo a polícia, Soares teria sido atingido na cabeça e nas costas.

Daniel Soares era presidente da Associação dos Assentados do Projeto Carlos Fonseca, uma dissidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Parauapebas. O delegado da Polícia Federal Luiz Eduardo foi designado para fazer as investigações preliminares. Segundo o capitão Deodato Alves, da Polícia Militar de Parauapebas, Soares era desafeto do atual presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade, Francisco de Assis, e esta será uma das linhas de investigação.

Sindicalista e padre ameaçados

Momentos depois de receber a informação sobre o assassinato de Daniel Soares, a PF começou a apurar também a morte de Carlos Branco, que vivia na gleba Mandaquaru, que fica entre Pacoiá e Anapu. O principal suspeito é um grileiro conhecido na região como Divino.

No último sábado, logo depois da morte da missionária americana, Adalberto Xavier Leal, peão de uma das fazendas de Anapu, foi assassinado. Seis ativistas e camponeses foram assassinados no sul e oeste do Pará desde o dia 9 de janeiro até ontem, segundo levantamento da CPT.

Além dos assassinatos, as ameaças de morte continuam na região onde foi morta a missionária americana. Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anapu, Francisco de Assis dos Santos Souza, o Chiquinho, recebeu ameaça na segunda-feira, menos de 48 horas após o assassinato de Dorothy. A ameaça foi deixada por escrito na casa do sindicalista por dois homens que obrigou uma prima de Chiquinho a escrever um bilhete.

Numa referência indireta ao assassinato de Dorothy Stang, o texto dizia que os movimentos populares de Anapu vinham subestimando a inteligência de seus inimigos. E que, agora, está provado quem é mais inteligente. Por fim, vinha a ameaça direta: os homens afirmaram que Chiquinho será a próxima vítima.

Outro ameaçado de morte é o padre José Amaro, amigo e vizinho da missionária. Ele teria sido informado de que estaria na fila como um dos próximos a ser executado. A ameaça foi repassada ao Ministério Publico.