Título: PROMESSA DE CAMPANHA
Autor: Valderez Caetano
Fonte: O Globo, 16/02/2005, Economia, p. 23

A rejeição pelo Congresso à medida provisória (MP) 232 deverá ser a primeira grande derrota do governo em conseqüência da eleição do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara. A partir de ontem, ele é o mais forte aliado da bancada ruralista, da qual teve apoio integral, e de entidades empresariais como as confederações nacionais da indústria (CNI), da agricultura e pecuária (CNA) e do comércio (CNC) contra a medida que ampliou de 32% para 40% a base de cálculo da CSLL e do Imposto de Renda das empresas e instituiu o IR na fonte para o setor agrícola.

Para integrantes da bancada ruralista, se a MP até agora contava com a rejeição da maioria dos parlamentares, com o novo quadro político que se desenhou depois da eleição de Cavalcanti, ela já está morta e enterrada. O reforço à tese veio do próprio novo presidente da Casa - cuja plataforma de campanha incluía o sepultamento da MP:

- Eu não vou deixar os pequenos agricultores e empresários à mercê da vontade dos tecnocratas do governo (com medidas) que venham a prejudicar o desenvolvimento - disse, logo após sua eleição.

Governo está aberto ao diálogo, afirma líder

Para o governo ainda há a possibilidade de negociação apesar da derrota sofrida na eleição. Abatido, o líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), disse que antes mesmo da eleição o governo já havia manifestado o desejo de negociar com os partidos os principais pontos da MP 232. Segundo ele, o governo está aberto ao diálogo:

- Todo mundo sabe que essa medida é emblemática. Mas temos convicção de que é possível negociar.

Depois de participar de uma reunião com a cúpula do PTB, um dos principais aliados do Palácio do Planalto, o ruralista Nelson Marquezelli (SC) disse que o partido fará pressão para que o governo retire a MP. Segundo ele, essa será a única forma de o Planalto restaurar o diálogo com o Congresso depois do grande arranhão causado pela derrota de seu candidato, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP).

- A retirada da medida provisória do Congresso será a porta de entrada para o governo negociar dentro da nova composição da mesa diretora - afirmou Marquezelli.

Para o novo primeiro-secretário da Mesa da Câmara, Inocêncio Oliveira (PMDB-PA), a medida vai ser derrotada se o governo se recusar a negociar com as bancadas os pontos da MP que aumentam impostos:

- É inadmissível que o governo taxe setores que mais geram emprego.

Ontem, antecipando-se à discussão da MP, o deputado Antero Paes de Barros (PSDB-MT) apresentou uma emenda supressiva que retira da MP os artigos que não sejam a correção em 10% da tabela do IR, "atendendo solicitação de setores como a CNI, CNA e CNC".

- Acho que o novo presidente Severino Cavalcanti vai começar sua gestão com o pé direito se conseguir enterrar essa medida - cutucou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).