Título: Sem-teto invadem solar tombado pelo Patrimônio Histórico na Bahia
Autor: Heliana Frazão
Fonte: O Globo, 17/02/2005, O País, p. 4

Os movimentos sociais voltaram à carga na Bahia. Ontem, 105 famílias ligadas ao Movimento dos Sem Teto da Bahia (MSTB) invadiram um solar tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Salvador; cerca de 750 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) acamparam na sede da prefeitura de Prado, no sul do estado; e 30 índios da tribo pataxó hã hã hãe, do município de Pau Brasil, invadiram o prédio do Ministério da Saúde na capital, onde funciona a Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

Ocupação ocorreu sob a vigilância de policiais

Esta foi a primeira vez que o Movimento dos Sem Teto invadiu uma construção de valor histórico no estado. As famílias estavam abrigadas no antigo prédio do Colégio Nossa Senhora das Graças, no Bairro Caminho de Areia, na Cidade Baixa, de onde foram retiradas por força de um mandado de reintegração de posse. De acordo com os líderes, a única opção foi o casarão histórico, já que as famílias não poderiam ficar ao relento, sobretudo em um período de chuvas intensas.

A ocupação transcorreu sob a vigilância de policiais militares, que não atentaram para a importância histórica do prédio. O solar está desocupado há cerca de dois anos e até 2003 abrigou um brechó. Apesar de ser tombado pelo Iphan, o imóvel não pertence à União, mas à Associação dos Empregados do Comércio da Bahia, que ontem mesmo ingressou na Justiça com pedido de reintegração de posse.

Para o Iphan, o Solar Amado Bahia tem valor inestimável e é um dos exemplares mais representativos da arquitetura eclética do século XIX. Possui três pavimentos, uma capela com entalhes dourados, paredes revestidas de espelhos franceses, piso de parquet e teto com acabamento em estuque, além de estruturas externas metálicas importadas da França.

O solar pertenceu à família Amado Bahia, de latifundiários, que em 1949 doou o imóvel para a Associação dos Empregados do Comércio. A instituição pretendia instalar no local um sanatório e mais tarde, um centro educacional, mas os projetos não foram concretizados.

Em outro protesto, objetos queimados e conflito

Um grupo de 50 famílias ligadas ao Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), invasoras do Edifício Costa Morena, no bairro do Costa Azul, em Salvador, fizeram um protesto contra a ação de reintegração de posse concedida pela 20ª Vara Cível aos condôminos. O prédio, construído pela Encol, foi invadido em 1998. Os invasores queimaram pneus, madeiras e um contêiner plástico. Houve um princípio de conflito, mas a polícia controlou a manifestação.

Os 750 integrantes do MST que estão acampados na sede da prefeitura de Prado, a 800 km de Salvador, protestam contra o descaso do município com a educação nos acampamentos e assentamentos da região. Os sem-terra reclamam da falta material escolar e dos professores. O grupo garante que só deixará o local depois de uma audiência com o prefeito Wilson Alves Brito Filho (PT), que estava em Salvador.

Já os índios pataxó cobram do governo federal melhoria no atendimento médico. Eles reivindicam medicamentos e carros para transportar os índios em casos emergenciais. A direção da Funasa alegou que faltam recursos, mas que pretende atender o pleito até o fim do ano.