Título: DIVULGADOS RETRATOS-FALADOS DE ASSASSINOS DE FREIRA
Autor: Rodrigo Rangel/Ismael Machado
Fonte: O Globo, 17/02/2005, O país, p. 8

A Polícia Civil do Pará divulgou ontem os retratos-falados dos dois suspeitos de terem executado a missionária americana Dorothy Stang, no último sábado, em Anapu, no Pará. Ainda não há pistas da dupla nem dos acusados de ordenar o crime. Todos estão sendo procurados desde sábado.

Os supostos executores foram identificados apenas como Raifran e Eduardo. Eles seriam capangas do posseiro Amair Feijoli da Cunha, o Tato, também foragido e acusado de ser o intermediário. O mandante, segundo a polícia, seria o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, conhecido na região como Bida. O Ibama informou que Vitalmiro deve R$30 milhões em multas por desmatamento ilegal.

- Tota era uma espécie de testa-de-ferro do Bida - disse o delegado Waldir Freire.

Cinco testemunhas ajudaram a fazer retratos-falados

Os retratos-falados foram feitos em computador, a partir de depoimentos de pelo menos cinco testemunhas. A polícia acredita que eles estejam escondidos na floresta que cerca a cidade. As polícias Federal, Civil e Militar participam das buscas.

Os papéis já anexados ao inquérito destinado a investigar a morte da freira ajudam a reforçar as acusações de que as autoridades foram negligentes. No dia 10 de janeiro, a própria Dorothy registrou queixa da delegacia de Anapu denunciando a presença de invasores na área destinada a seu projeto de desenvolvimento sustentável.

Ela informara à polícia que um assentado, Luís Moraes de Brito, havia sido ameaçado por um homem que dizia ter comprado a terra de Bida. Na véspera, o invasor teria queimado quatro barracos. A missionária levou o gerente regional do Incra, Roberto Kiel, à área do conflito.

Quinze dias depois, Brito procurou a polícia, dizendo ter sido ameaçado por Tato, o capataz de Bida. Segundo o colono, Tato chegou a atirar para o alto. A polícia se restringiu a chamar Tato para depor. Ele negou a acusação. Foi esse conflito, tratado como praxe, que provocou a morte da missionária, menos de 20 dias depois. Para o delegado Gilvandro Furtado, que participa da investigação, a Polícia Civil fez o que tinha de fazer:

- Eram ameaças e isso está dentro do que a lei trata como crime de baixo potencial ofensivo. A polícia ouve as partes e envia o caso ao juizado especial.

As primeiras reações dos trabalhadores à violência já começaram a surgir. A sede do Incra em Altamira foi invadida ontem à tarde por trabalhadores rurais de seis municípios ligados pela Transamazônica. A principal reivindicação é a regularização fundiária e o fim da violência contra agricultores.

- Queremos que o governo federal cumpra com as promessas que vêm sendo feitas desde que Dorothy foi assassinada - disse o agricultor Manoel Dias.

Em Ipixuna, cerca de 150 agricultores bloquearam a PA-160 em protesto contra a morte do sindicalista Daniel Soares da Costa Filho. Os manifestantes dizem que só liberam a estrada se conseguirem uma audiência com o ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos.