Título: Custo de promessas chega a R$110 milhões
Autor: Maria Lima/Isabel Braga
Fonte: O Globo, 17/02/2005, O País, p. 11

Pouco mais de 24 horas após tomar posse, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, reafirmou ontem a intenção de pôr na frente de qualquer projeto a proposta de aumento dos subsídios dos deputados, de R$12.740 para R$21.550, equivalente ao salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). E disse que o deputado que não quiser o aumento deve fazer uma carta à Mesa renunciando ao reajuste. A promessa de campanha inclui o aumento da verba de gabinete, de R$35 mil para R$45 mil.

Esses reajustes aumentariam em mais de R$110 milhões por ano o custo dos subsídios e vantagens dos deputados, sem contar o 13º salário e as convocações extraordinárias.

Deputados iniciam movimento de reação

Ontem mesmo começou um movimento de reação às medidas defendidas por Severino. Preocupados com a repercussão negativa das medidas, alguns parlamentares pedem cautela e outros criticam Severino.

Aos que estão criticando o aumento, Severino mandou um recado: que enviem um ofício à Mesa abrindo mão do dinheiro.

Incluindo todos os benefícios como passagens aéreas, auxílio-moradia, cotas para correio e gráfica e gabinetes com funcionários no estado e em Brasília, cada deputado custa hoje, sem o aumento, cerca de R$65,7 mil mensais. Com os reajustes prometidos, passaria a custar perto de R$83,7 mil por mês. O projeto de aumento da verba de gabinete já está na Mesa e Severino disse que o enviará para votação imediatamente. O do subsídio ainda precisa ser apresentado à Mesa.

- Farei isso imediatamente (cumprir a promessa de campanha). Não tenho que relutar. Estou cumprindo a Constituição - disse Severino.

A disposição de Severino indignou alguns parlamentares, inclusive da base. O temor é que a Casa fique desmoralizada e o novo presidente, enfraquecido.

- Avisei ao Severino que, se ele ficar com essa pauta pragmática, priorizando aumento de salário e promessas de campanha que beneficiam deputados, ele se transformará em um presidente fraco - disse o presidente do PTB, Roberto Jefferson(RJ). - Desse jeito, daqui a pouco, deputado não poderá andar na rua, será apedrejado.

- É preciso tomar cuidado com a opinião pública, porque a Câmara não existe sem ela. Não há Congresso forte sem apoio popular. Tudo o que Severino fizer, tem de fazer com um olho no rei e outro na rua - ponderou o candidato derrotado do PFL, José Carlos Aleluia (BA).