Título: Luta por liderança vira guerra de filiações no PMDB
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 17/02/2005, O País, p. 13

A disputa pelo cargo de líder do PMDB, que gerou uma corrida por novas filiações fazendo a bancada saltar de 77 deputados, em dezembro, para 94 ontem, transformou-se num espetáculo deprimente. As filiações, patrocinadas por líderes das alas governista e de oposição, geraram situações como as dos deputados Lino Rossi (MT), que num intervalo de seis horas na segunda-feira foi para o PMDB e voltou para o PP; e Enio Tatico (GO), que no domingo ingressou no PMDB e na terça-feira foi para o PL.

Os governistas, liderados pelo ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, chegaram a filiar ao partido o deputado Ronivon Santiago (AC), acusado de ter recebido dinheiro para votar a favor da emenda que aprovou a reeleição do presidente da República, em 1996, viabilizando o segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. A falta de critérios e respeito aos partidos chegou a tal ponto que os próprios peemedebistas não escondem o constrangimento.

- Isso começa a cheirar mal, temos que acabar com essa guerra de filiações - reagiu o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), que ontem comunicou ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), que a partir de agora a Mesa só deverá aceitar as novas filiações à bancada que tenham o aval da presidência do partido.

- O PMDB não tem mais jeito -- comentou, desolado, o deputado Edison Andrino (PMDB-SC).

Partido está com dois líderes

Durante todo o dia de ontem os parlamentares do partido parodiaram a brincadeira "Onde Está Wally?" com a pergunta "Onde está o líder?". Ocorre que o PMDB está sem líder ou tem dois líderes ao mesmo tempo. Ontem o Diário da Câmara publicou, na mesma edição, uma lista de assinaturas com 48 deputados destituindo o líder José Borba (PR) e colocando no lugar o deputado Saraiva Felipe (MG). E outra lista, com 47 assinaturas, reconduzindo Borba para o cargo de líder. O próprio Borba brincava com a situação:

- Daqui a pouco pode mudar. Vale a última lista e se Deus quiser amanhã volto a ser líder.

A apresentação das listas faz parte de um processo de aliciamento que envolve a retirada de assinaturas da lista adversária e, até mesmo, a possibilidade de que o mesmo parlamentar dê apoio ao líder dos governistas e ao dos oposicionistas. É o caso do deputado Paulo Lima (SP), que tenta justificar sua atitude dizendo que defende mesmo a escolha do líder no voto:

- Isso está virando uma sacanagem. Assinei a primeira lista a pedido do Michel Temer e a segunda em consideração ao Renan Calheiros. Assino todas as listas porque quero eleição pelo voto.

Escolha em votação secreta

A corrida por filiações e de assinaturas nas listas de apoio a Borba ou Saraiva é acompanhada de acusações mútuas de uso da máquina do governo Lula ou do governo do Rio, por meio do secretário de Governo Anthony Garotinho, que iniciou o processo de filiações no PMDB para aumentar a ala oposicionista do partido.

O deputado Moreira Franco (RJ) considera que desta vez todos foram longe demais e que o partido precisa se corrigir com urgência se não quiser piorar sua imagem na opinião pública.

- Todos os lados usaram heterodoxia excessiva. Temos que voltar a trilhar caminhos de transparência e moralidade - disse Moreira.

Para evitar que o partido continue exposto, vários de seus líderes iniciaram entendimentos para pôr um fim à queda-de-braço. Eles negociam a realização de uma reunião da bancada na próxima quarta-feira, em que os deputados escolheriam o líder em votação secreta. Para essa votação seria considerada a bancada da meia-noite do dia 14, que era de 88 deputados. Mas isso não impedirá outros movimentos para ampliar os votos na bancada.

O "passante" Lino Rossi (PP-MT) pediu licença do mandato e em seu lugar assumiu a suplente Thaís Barbosa (PMDB-MT), aliada dos governistas, numa articulação que envolveu Borba e o líder do PP, José Janene (PR). A ala oposicionista fez o mesmo e ontem o secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, Osmar Terra, disse que assumirá seu mandato para eleger Saraiva se seu suplente, Vilson Cignachi, insistir em apoiar a permanência de Borba.

Garotinho iniciou onda de filiações

A onda de filiações para mudar a maioria na bancada do PMDB foi iniciada em 2 de fevereiro, quando Garotinho filiou seis deputados. No dia 10, os governistas permitiram a filiação do pefelista Inocêncio Oliveira (PE), no dia seguinte filiaram mais um e nos dias subseqüentes, mais oito, contra apenas um da oposição. Os oposicionistas acusam os governistas de estarem inchando o partido, mas estes argumentam que não começaram.

- Quem pariu Mateus que o embale - respondeu o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), referindo-se ao fato de que a corrida de filiações foi deflagrada por Garotinho.