Título: Em crise, PT tem problema para escolher líder
Autor: Ilimar Franco e Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 17/02/2005, O País, p. 14

Os erros que marcaram a derrota de Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) para a presidência da Câmara podem se repetir novamente no conturbado processo de escolha do novo líder da bancada do PT. Nos primeiros debates feitos ontem ficou claro o dilema da bancada, que volta a se reunir hoje, mas deve adiar para a próxima semana a decisão sobre o nome.

O deputado Paulo Rocha (PA), cuja indicação era tida como certa, pode perder a vaga na recomposição de forças do PT. Alguns petistas defendem que o cargo vá para um colega com maior visibilidade, como o ex-presidente da Casa, João Paulo Cunha (SP), ou o líder atual, Arlindo Chinaglia (SP).

O PT se divide também quanto à relação com o novo presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE). O setor mais à esquerda, especialmente as mulheres, defendem o combate às bandeiras corporativas do novo presidente, considerada retrógradas. E querem um líder disposto a travar essa batalha.

A outra ala quer alguém capaz de estabelecer um novo diálogo com os demais partidos.

- O líder tem que ter capacidade de articular com outras forças políticas, condição para enfrentar embates pesados em plenários e capacidade de dialogar com a opinião pública passando a posição da nossa bancada - disse José Eduardo Cardozo (SP).

- Se não houver o reconhecimento de que os combatentes dessas posições retrógradas defendidas pelo novo presidente da Câmara somos nós, O PT vai desaparecer - discursou Maria José Maninha (DF) na reunião.

Ameaçado com punição, Virgílio falta à reunião

Os petistas também fizeram um balanço dos erros que levaram o partido a perder a presidência e ficar sem uma vaga na Mesa Diretora da Câmara. Mas há dificuldade até para avaliar a derrota e alguns querem evitar o debate. João Paulo e o candidato dissidente Virgílio Guimarães (MG), que está sob ameaça de punição, não foram à reunião.

O deputado Fernando Ferro (PE) disse que um dos erros da bancada foi a escolha de Greenhalgh. Segundo deputados que participaram da reunião, Ferro revelou que, a pedido do presidente do PT, José Genoino, ele e a comissão que acompanhou o processo de seleção dos pré-candidatos do PT não mencionaram, na reunião da bancada, a rejeição dos demais partidos ao nome de Greenhalgh.

O candidato derrotado ficou sério. Na abertura do encontro, ele havia agradecido o esforço dos colegas de partido.

Pouco se falou na punição a Virgílio. O líder Arlindo Chinaglia afirmou que a candidatura avulsa proporcionou o aparecimento de outras candidaturas avulsas, entre elas a de Severino Cavalcanti, que derrotou o PT.

Paulo Bernardo (PR) pediu que Virgílio seja punido.

- Não se justifica o comportamento dele. Nos desgastou tremendamente. A posição dele não pode ficar sem conseqüência. - afirmou, destacando ainda o erro do governo - Alguns ministros precisam tirar a bunda da cadeira e ir ao Congresso atender aos parlamentares.

Responsabilizado por parte dos petistas pela derrota de Greenhalgh, José Genoino se defendeu ontem. Para ele, além da insistência de Virgílio Guimarães em concorrer, a demora na decisão sobre a reeleição de João Paulo atrasou o processo interno no partido e dificultou a escolha do candidato.

- A reeleição atrasou a discussão na bancada até dezembro. Ainda tinha o Orçamento da União e o término do ano parlamentar para resolver.

A reunião continua hoje, até meio-dia. Se houver clima,será escolhido o novo líder. Senão, só na próxima terça-feira.