Título: Juro alto aumenta apetite do mercado por papéis corrigidos pela Taxa Selic
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 17/02/2005, Economia, p. 24

Depois de dois meses consecutivos de queda, a parcela da dívida mobiliária federal (em títulos públicos) corrigida pela Taxa Selic voltou a subir em janeiro. Ela passou de 52,41% do estoque em dezembro para 56% no mês passado. Segundo o Tesouro Nacional, esse aumento foi resultado da grande demanda do mercado por esses papéis - tanto devido às cinco elevações da taxa básica Selic entre setembro e janeiro quanto pela necessidade de os fundos de investimentos alongarem o perfil de suas aplicações. Já a parcela atrelada ao câmbio caiu para 8%, a menor da série histórica que começou em 1999.

O coordenador da dívida pública, Paulo Valle, explicou que a maior parte dessa demanda ocorreu porque diversos fundos de investimento tinham que comprar papéis mais longos - em geral corrigidos pela Selic, que dão remuneração maior - para se adaptarem às novas regras de tributação do setor, que prevê menos Imposto de Renda para aplicações de longo prazo. Os fundos trocaram títulos corrigidos pela taxa básica de juros de curto prazo por esses mesmos papéis de longo prazo.

A emissão de títulos do Tesouro Nacional de janeiro totalizou R$56,4 bilhões, sendo que 74,7% foram papéis corrigidos pela Selic. Já os resgates foram de R$52,9 bilhões. Isso resultou numa emissão líquida do Tesouro de R$3,5 bilhões. Quando se consideram as emissões líquidas do Banco Central (BC), o total sobe para R$5,4 bilhões.

O estoque total da dívida aumentou R$16,44 bilhões em janeiro e fechou o mês em R$826,7 bilhões. Esse aumento foi resultado da emissão líquida de papéis e também da incorporação de juros.

Já a parcela da dívida atrelada ao câmbio caiu em janeiro. O percentual passou de 9,88% em dezembro para 8,03% no mês passado. Segundo o chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto do BC, Ivan de Oliveira Lima, essa queda de R$13,6 bilhões na dívida cambial ocorreu porque o governo fez resgates R$13,3 bilhões em títulos e swaps cambiais e porque houve desvalorização do dólar no período.

- Quando há redução da participação de papéis cambiais na dívida, a participação da parcela atrelada à Selic aumenta - lembrou Lima.

A boa notícia é que o prazo médio aumentou

A parcela prefixada da dívida também caiu em janeiro. O percentual passou de 20,09% para 18,71% entre dezembro e o primeiro mês de 2005. Apesar de a estratégia do governo ser de aumentar a participação dos prefixados na dívida, esse movimento não ocorreu em janeiro por uma questão sazonal.

Segundo Paulo Valle, o primeiro mês do ano é tradicionalmente um período em que há grande concentração de vencimentos de títulos prefixados, o que dificulta a rolagem do valor total. No mês passado, os vencimentos de prefixados somavam R$25 bilhões e o governo teve que resgatar R$10,1 bilhões.

No entanto, o coordenador explicou que, apesar de a dívida ter piorado seu perfil com o aumento da participação de títulos corrigidos pela Selic, ela registrou uma melhora em seu prazo médio. Este passou de 28,1 meses em dezembro para 28,5 meses em janeiro.