Título: PF PRENDE 'HACKERS' QUE ATACAVAM CORRENTISTAS
Autor: Jaílton de Carvalho
Fonte: O Globo, 17/02/2005, Economia, p. 28

Na terceira grande operação em menos de duas semanas, a Polícia Federal (PF) prendeu ontem no Distrito Federal quatro integrantes de uma organização de hackers acusada de desviar pela internet aproximadamente R$10 milhões de clientes de Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil (BB), Bradesco e Itaú. Entre os presos está o taxista Renato Prata Silva, apontado como chefe do grupo. Silva morava numa casa de dois andares, com piscina, banheira e sauna, no Park Way, um dos bairros mais caros de Brasília.

Na operação, batizada de "Clone", a polícia apreendeu com os hackers mais de dez computadores, duas armas, um jet-ski, três carros e farta quantidade de papéis com nomes e extratos bancários de possíveis vítimas da quadrilha. Os hackers são responsabilizados pelo desvio de quantias que vão de cem reais a R$40 mil de aproximadamente 200 contas de clientes em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Ceará. O grupo é acusado ainda de clonar cartões para facilitar os saques do dinheiro desviado - o que inspirou o nome da operação.

PF suspeita de cumplicidade de funcionários dos bancos

A polícia ainda está à procura do quinto acusado de envolvimento com a quadrilha, que também teve a prisão decretada pelo juiz Ronaldo Desterro, da 12ª Vara Federal. Mas as investigações estão longe do fim. A PF suspeita que os hackers aplicaram alguns golpes com a cumplicidade de funcionários dos bancos, inclusive de pelo menos um gerente. A polícia trabalha com a hipótese de que os funcionários tenham sido subornados para fornecer senhas e, depois, facilitar os saques em algumas contas.

- Temos informações de que funcionários dos bancos repassaram dados dos clientes à quadrilha - afirmou o delegado Valmir Lemos de Oliveira, diretor-executivo da Superintendência da PF no Distrito Federal.

A operação começou no início da manhã e, por volta das 9h, quatro dos cinco acusados já estavam presos. Os policiais prenderam Renato Silva no Park Way, Custódio Jerônimo de Oliveira e Amílquer Lemos dos Santos em Taguatinga e Sérvio Willee Rodrigues Pontes em Sobradinho. Segundo a PF, Pontes e Oliveira faziam o levantamento sobre a vida bancária das vítimas. Ex-empregado da Caixa, Amílquer teria executado os desfalques com a ajuda de Silva.

As investigações começaram há sete meses, mas a PF suspeita que o grupo atuava desde 2002. Um dos policiais que acompanham a apuração do caso sustenta que os bancos já sabiam das fraudes, mas demoraram a chamar a polícia. Alguns dirigentes dos bancos atacados estariam com receio de fazer a denúncia e, com isso, assustar os clientes que fazem movimentações de contas pela internet. Com isso, os bancos assumiam o prejuízo e, em silêncio, ressarciam os clientes cujas contas haviam sido saqueadas pelos hackers.

Outra fraude descoberta desviou R$600 milhões

Na terça-feira, policiais desbarataram uma quadrilha acusada de fraudar documentos para obter o pagamento de títulos da dívida pública da Eletrobrás, da Petrobras e do Banco do Brasil. Somente do BB os envolvidos tentaram desviar R$600 milhões. Na operação, batizada de "Big Brother" - nome inspirado na sigla BB - seis pessoas foram presas em Curitiba e Recife, sendo quatro advogados.

No dia 10, a PF prendeu, em Manaus e Boa Vista, a mulher e a sogra do presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Roraima, desembargador Mauro Campello. Também foram presos quatro servidores do TRE e um motorista do Tribunal de Justiça de Roraima. Todos são acusados de desvio de recursos do TRE. O nome da operação, "Pretorium", é uma referência ao local de trabalho do pretor, um magistrado da Roma antiga.