Título: Dois helicópteros de guerra desembarcaram 36 dos 110 militares que vão atuar no município
Autor: Luiza Damé e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 18/02/2005, O País, p. 3

ANAPU (PA). Os homens do Exército desembarcaram ontem em Anapu sob os olhos de uma platéia curiosa. Eram 7h e o ruído dos helicópteros se aproximando já despertava a atenção dos moradores. Muitos deles se juntaram às margens do maltratado campo de futebol usado como área de pouso para ver os primeiros movimentos da Operação Pacajá. De início, surpreendeu o barulho dos dois helicópteros de guerra que traziam 36 dos 110 militares que vão atuar no município. O restante da tropa chegou em caminhões militares.

O desembarque do primeiro pelotão mais parecia uma cena de guerra, no meio de um campo de futebol da cidade. Os soldados que desciam de helicópteros, um Blackhawk e um Cougar, se atiravam ao chão, postados lado a lado, com seus fuzis 762 em posição de tiro.

As cenas de militares fortemente armados e com roupas camufladas circulando pelas ruas enlameadas da cidade foram a grande atração de ontem para uma gente que até uma semana atrás não estava acostumada com a presença do Estado na região.

A família de Antônio Cardoso foi inteira para assistir à chegada dos militares: ele, a mulher e os quatro filhos estavam a postos, já nas primeiras horas da manhã, à beira do heliporto improvisado pelo Exército.

¿ É uma boa idéia para acalmar o juízo da população ¿ dizia ele, que trabalha para uma madeireira da região, mas pensa em um dia conseguir um pedaço de terra para plantar.

¿ Aqui quem manda são os grandes. Mas agora tem um lado mais forte que vai acabar com essa revolução ¿ afirmava José Bernardino de Araújo, empregado de uma empresa que fabrica compensado de madeira.

A missão militar, conseqüência do recrudescimento da violência no estado inaugurado pelo assassinato da missionária americana, foi batizada de Operação Pacajá, nome de um município vizinho a Anapu, onde a freira foi morta. A operação deverá ser realizada em todo o estado do Pará. Ainda ontem, o Exército iniciaria missões Porto de Moz e Senador José Porfírio, dois municípios que estão na lista de áreas críticas, onde há conflitos por terra.

O comando da operação ficará baseado em Altamira, cidade a 150 quilômetros de Anapu, que é o maior centro urbano da região. O general de brigada Jairo César Nass, comandante da 23ª Brigada de Infantaria de Selva (sediada em Marabá), foi destacado para chefiar os trabalhos em todo o estado. Em princípio, a tarefa do Exército será dar suporte a ações das polícias Civil e Federal e dos demais órgãos que participarão da força-tarefa contra a grilagem, como Incra, Ibama e Funai.

¿ Nossa missão é dar apoio pessoal e material aos órgãos de segurança que já estão aqui ¿ disse o capitão Wanderli Baptista da Silva, comandante da equipe.

O estudante Ismael de Souza Guimarães, de 16 anos, estava impressionado com os helicópteros, que nunca tinha visto tão de perto.

As tropas não pouparam exibições de força. Do alto de caminhões verde-oliva, militares ostentavam metralhadoras giratórias. Soldados com fuzis a tiracolo, grupos enfileirados correndo pelas ruas a caminho do alojamento, equipamentos de comunicação de guerra, as aeronaves armadas. Tudo chamava atenção nessa cidadezinha cortada ao meio pela Transamazônica, que não tem um edifício sequer.