Título: EM GOIÁS, NOVO CONFLITO ENTRE SEM-TETO E POLÍCIA
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 18/02/2005, O País, p. 12

No velório das vítimas da desocupação da véspera, policiais civis tentaram prender líder do movimento e houve confusão

GOIÂNIA. Um dia depois da operação da Polícia Militar que resultou em duas mortes durante a desocupação de um terreno invadido, houve novo conflito entre policiais e sem-teto. Durante o velório dos sem-teto, policiais civis tentaram prender um dos líderes do movimento do lado de fora da Catedral de Goiânia. Os sem-teto agrediram os policiais, que revidaram dando tiros para o alto e apontando armas para a população.

O Ministério Público investiga se houve abusos por parte da PM na desocupação. A operação de reintegração de posse foi determinada pela Justiça e terminou com dois mortos a tiros. Mas há denúncias de que esse número poderia ser maior e que outras 26 pessoas estariam desaparecidas.

- Não havia pior momento para a polícia aparecer. Foi muito cruel, bem na hora em que os caixões iam deixar a catedral - disse Fábio Fazzion, um dos coordenadores da Casa da Juventude, entidade filantrópica ligada à Igreja Católica que apóia o movimento dos sem-teto.

Cerca de mil pessoas passaram a noite na catedral

Cerca de mil pessoas, segundo Fazzion, passaram a noite na catedral, onde foram velados os corpos de Vagner da Silva Moreira, de 21 anos, e Pedro Nascimento Silva, de 27, mortos na operação que mobilizou cerca de dois mil policiais na quarta-feira de manhã. Viviam na área invadida, o Parque Oeste Industrial, cerca de três mil famílias.

O diretor da Polícia Civil, Humberto Teixeira, criticou a atitude do delegado Daniel Felipe, responsável pela ação no velório, ressalvando que o policial tinha um mandado de prisão e agia dentro da lei:

- Lamentamos o erro. Não era o momento. Foi uma infelicidade do delegado no afã de cumprir a missão - disse Teixeira, lembrando que o sem-teto procurado teria sido alvo de inquérito por envolvimento com tráfico em São Paulo.

Imagens gravadas por equipes de TV mostram um policial da equipe do delegado sendo agredido por populares do lado de fora da catedral. Ele conseguiu se libertar, após colegas atirarem para o alto. Depois sacou a arma e apontou para os agressores. É possível ouvir pelo menos quatro disparos.

- O que preocupa é que a polícia não tem controle. Na desocupação, a violência foi grande. Há gente dizendo que viu muitos corpos - diz o deputado Mauro Rubem (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa.

Secretário nega que haja mais vítimas

O secretário de Segurança Pública de Goiás, Jônathas Silva, negou que haja outros mortos:

- É contra-informação. Estamos à disposição do Ministério Público - disse Jônathas Silva.

O Ministério Público Estadual e o Federal foram à ocupação inspecionar cisternas, casas e barracos onde poderia haver corpos. A PF ajudou na perícia.

- A informação é que existem desaparecidos e estamos atrás dessas pessoas. Estamos tomando cautelas e buscando coletar as provas - disse a procuradora-geral de Justiça de Goiás, Laura Ferreira Bueno.