Título: `O BOM SENSO TEM QUE PREVALECER¿
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Fonte: O Globo, 19/02/2005, O País, p. 9

Um dos mais experientes parlamentares do Congresso, o deputado Miro Teixeira (PT-RJ), preocupado com a imagem da Câmara neste momento em que se acentua a discussão de temas fisiológicos, disse esperar bom senso para não aprovar o aumento dos subsídios dos deputados. Nesta entrevista, o deputado explica sua filiação ao PT, dizendo que queria apoiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que seu partido anterior, o PPS, decidiu sair da base aliada. Cristão-novo no PT do Rio, elogia o ex-deputado Wladimir Palmeira e diz que o partido tem que apresentar um programa de melhoria de serviços à população do Rio.

A plataforma fisiológica do novo presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, pode desgastar a imagem da Casa?

MIRO TEIXEIRA: Severino falou para o eleitorado. Ele percebeu que havia um sentimento nesta direção. A Casa terá um grande desgaste. Mas a Câmara vai ficar no foco jornalístico e isso poderá conter um movimento desse tipo. Porque a Câmara não pode viver dissociada da opinião pública. O bom senso tem que acabar prevalecendo.

Como o senhor irá votar o reajuste para deputados?

MIRO: Eu votarei contra. Na atual circunstância, em que se criou um conjunto de benefícios paralelos, penso que não há justificativa para o aumento do subsídio. Porque existe uma verba indenizatória de R$15 mil, que pode ser utilizada para descontar aluguel de escritório, combustível e contratação eventual de consultoria. Se você junta isso com o salário, soma quase R$28 mil.

Outra proposta polêmica é a prorrogação de mandato. O que o senhor acha?

MIRO: Sobre isso quero dizer que o meu mandato se esgota em 30 de janeiro de 2007. Se houver alguma prorrogação, renunciarei a partir desta data.

A eleição de Severino pode criar problemas para a governabilidade?

MIRO: Não acredito que Severino crie embaraço nas relações institucionais. Acredito que ele vai compor, de maneira pública, com o Poder Executivo. Haverá momentos de tensão nas relações partidárias, mas não nas relações institucionais.

O Planalto errou ao ficar distante do processo?

MIRO: Quando éramos oposição, denunciávamos o governo que intervinha no processo interno. Portanto, o governo não errou. O governo perdeu a eleição, mas não usou recursos da máquina. Isso é formidável.

Como o senhor avalia a movimentação do ex-governador Garotinho com novas filiações ao PMDB?

MIRO: Há uma luta de poder. As novas filiações não são apenas de Garotinho. Elas são de Garotinho e de mais alguma facção do partido contrária a Garotinho. Eles estão disputando a liderança do partido.

O senhor estava no PDT desde 1988. Em 2004, foi para o PPS. Por que agora o PT?

MIRO: Porque eu apoiei Lula em 1989, contra o Fernando Collor. Apoiei Lula em 1998 e no segundo turno de 2002. Eu vim para o PT porque nada vai me afastar desse curso: apoiar Lula.

E por que o senhor não voltou para o PDT?

MIRO: Porque eu não quero correr o risco de não apoiar Lula. Se Lula fracassar, vamos ter uma presença conservadora por 20 anos. Agora, esse apoio não significa ser subserviente ao governo.

Como o PT do Rio deve se apresentar em 2006? Wladimir Palmeira é o candidato do partido ao governo?

MIRO: Eu não sei se é do partido. Eu avalio que Wladimir teria uma grande receptividade no eleitorado do Rio. É um político de formação na luta e tem um alto padrão de respeitabilidade. Agora, ele não está convencido a disputar o governo.

O senhor seria uma opção do PT para uma companha majoritária?

MIRO:Não estou me colocando como candidato a nada.

A esquerda corre o risco de ficar fora da política do Rio com a polarização entre o ex-governador Garotinho e o prefeito Cesar Maia?

MIRO:Os dois políticos têm origem no campo da esquerda. Agora eles não querem se caracterizar, pois ganhar a eleição com carimbo de esquerda é difícil. A proposta que eu faço ao PT, é que se inicie um ciclo de discussão para construir primeiro um programa: alguma coisa que represente para o Rio uma expectativa de melhoria nos serviços que a população reclama.