Título: CRÍTICAS DE TARSO GERAM NOVA CRISE INTERNA NO PT
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Fonte: O Globo, 19/02/2005, O País, p. 9

As acusações feitas pelo ministro da Educação Tarso Genro, que responsabilizou o presidente do partido, José Genoino, pela derrota na eleição para a presidência da Câmara, detonaram uma crise no partido ainda não contornada. Ontem, a cúpula petista e o governo tentaram impedir que o incêndio se alastrasse. Tarso telefonou para Genoino, com o objetivo de pôr um fim à escalada de agressões mútuas.

¿Telefonei para o Genoino e disse que, embora mantenha minha opinião, se causei algum dano não era essa minha intenção. Sei que minhas declarações causaram um certo estremecimento, mas nossas relações continuam inalteradas e eu apóio a permanência dele na presidência do PT¿ disse o ministro.

Genoino dá assunto por encerrado após ligação

Na quarta-feira, Tarso responsabilizou a direção do PT pela derrota do candidato do partido Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e afirmou que Genoino ¿não dirige o PT, mas o partido do governo¿. No dia seguinte, o secretário de Relações Internacionais, Paulo Ferreira, contra-atacou dizendo, com respaldo da cúpula partidária e de Genoino, que o ministro cria problemas e prejuízos para o partido, não está informado sobre o que acontece na Câmara e deveria se preocupar mais com as questões da sua pasta.

Para Ferreira e Genoino, o telefonema de Tarso bastou.

¿ Ele me ligou e dou o assunto por encerrado ¿ disse o presidente do PT.

Tarso admitiu que as declarações foram feitas em momento inoportuno e causaram sérias turbulências no partido.

¿ Sem querer, aquilo criou um furacão no partido e agora quero trabalhar para distensionar a situação ¿ disse o ministro.

As declarações estremeceram a relação entre Tarso e a cúpula do PT. Ainda na quarta-feira, Genoino, furioso, falou com o chefe da Casa Civil, José Dirceu, para manifestar seu descontentamento e pedir uma retratação. Ele chegou a ameaçar ir à imprensa para rebater pessoalmente as afirmações de Tarso, mas no dia seguinte preferiu escalar Ferreira para verbalizar o descontentamento. Tarso negou que tenha sido pressionado a pedir desculpas.

¿ A iniciativa foi minha ¿ disse o ministro.

Apesar do esforço em abafar o caso, o bate-boca mostra que feridas profundas foram abertas e que o PT terá muito trabalho para curá-las.

Por trás do tiroteio está o descontentamento do ministro pela forma como Genoino conduziu a escolha do candidato petista deixando de fora dois integrantes de seu grupo: Virgílio Guimarães e o líder da bancada, Arlindo Chinaglia. Em 2001 os três integraram a chapa da tendência Movimento PT no Processo de Eleição Direta (PED) contra o Campo Majoritário, corrente de Dirceu e Genoino.

Grupo de Tarso foi preterido na escolha do candidato

Na primeira votação para escolha do candidato petista à presidência da Câmara, quando cada deputado votou em três nomes, Virgílio ficou em primeiro (com 43 votos) e Arlindo, em terceiro, com 39, empatado com Greenhalgh, mas ambos foram preteridos e Greenhalgh acabou escolhido.

Para a esquerda do partido, a forma de votação teve o dedo de Genoino e beneficiou o candidato oficial.

Chinaglia admitiu que os motivos da derrota ainda não foram esclarecidos.

¿ As avaliações feitas até agora são empobrecidas porque a maioria não conhece todos os fatos que levaram à derrota e quem conhece prefere não dizer para não detonar mais crise. Este debate vai durar muito no PT ¿ disse o deputado.