Título: MOTORISTAS DE VANS E PM ENTRAM EM CONFRONTO
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Fonte: O Globo, 19/02/2005, O País, p. 11

O centro velho de São Paulo virou ontem um campo de batalha. Motoristas de vans e policiais militares entraram em confronto durante todo o dia. Uma manifestação da categoria, que já durava três dias em frente à sede da prefeitura, foi reprimida com bombas de efeito moral e balas de borracha. Pelo menos dez pessoas ficaram feridas e sete foram detidas. Com medo da violência, o comércio fechou as portas. Houve muita correria e a população que passava pelo local se desesperou. A situação só se normalizou por volta das 18h, quando a prefeitura aceitou negociar com a categoria.

Os motoristas protestavam pelo terceiro dia contra atrasos no pagamento de subsídios que a prefeitura paga por passageiro e por não concordar com o valor fixado. Eles reivindicam o subsídio para os passageiros que utilizam o bilhete único que, segundo a categoria, representam 30% do movimento diário, que é de dois milhões de passageiros.

Na quinta-feira, já ocorrera um confronto. Ontem de manhã, a PM tentou impedir que a categoria utilizasse o carro de som que estava em frente à prefeitura. Os motoristas ameaçaram interditar o Viaduto do Chá e a polícia agiu com rigor.

PM usou bala de borracha e bomba de gás lacrimogêneo

Por volta das 10h, uma bomba de gás lacrimogêneo foi jogada em cima do carro de som e todos os líderes que estavam no veículos foram presos.

¿ A polícia pediu que a gente ficasse atrás do carro e depois jogou uma bomba em cima da gente ¿ disse o motorista Luiz Pereira.

O Batalhão de Choque atirou várias bombas de efeito moral e disparou balas de borracha em direção aos manifestantes. A PM conseguiu empurrar os motoristas para as ruas paralelas. A PM interditou as duas entradas do Viaduto do Chá impedindo o acesso de veículos e pedestres.

¿ Não agredimos ninguém, só queríamos fazer nossa manifestação como trabalhadores. Os policiais transformaram o local em campo de guerra ¿ disse o presidente do Sindlotação, Senival Pereira Moura.

Ao serem dispersados pela PM, os motoristas aproveitaram os ônibus parados e tiraram as chaves dos veículos como protesto. Pelo menos cinco ônibus foram guinchados.

Por volta das 12h40m, a situação foi controlada e os comerciantes chegaram a abrir as lojas. O trânsito no Viaduto do Chá foi liberado. O Batalhão de Choque deixou o local sob vaias. Os manifestantes chegaram a atirar pedra na PM.

No meio da tarde, motoristas e a PM voltaram a se enfrentar. A polícia retornou ao local para dispersar os manifestantes que continuavam em frente à sede da prefeitura, e fechou pela segunda vez o Viaduto do Chá, impedindo até a passagem de pedestres.

Algumas das vítimas estavam passando pelo lugar no momento do conflito e acabaram machucadas. O estudante Hugo Alves Lima, de 20 anos, estava voltando de uma entrevista de emprego quando foi agredido por policiais. O estudante estava com o nariz inchado e com diversos hematomas nas costas. Ele foi medicado e depois esteve no 1 º DP (Liberdade) para prestar queixa.