Título: BRASIL DESENVOLVE NOVO COMBUSTÍVEL NUCLEAR
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Fonte: O Globo, 19/02/2005, O Mundo, p. 30

Em 25 de janeiro, a usina nuclear Kori II, parte de um complexo de quatro usinas, em Busan, Coréia do Sul, colocou pela primeira vez em seu reator o 16 NGF ¿ New Generation Fuel.

A operação tão distante de Angra dos Reis, onde ficam as usinas brasileiras, foi o primeiro teste para valer do novo combustível nuclear desenvolvido por técnicos brasileiros em parceria com a americana Westinghouse e com a sul-coreana KNFC.

Quando começar a alimentar o reator de Angra I, o novo combustível brasileiro deverá provocar um aumento de potência de 10% na usina, suficiente para suprir uma cidade com 200 mil famílias. Devido a uma mudança no gerador da usina brasileira, entretanto, o combustível só deve entrar em operação em 2007.

O projeto de desenvolvimento do 16 NGF foi conduzido pelas Indústrias Nucleares do Brasil (INB) por uma equipe de nove engenheiros, coordenada por Roberto Esteves. Além de Kori II e Angra I, a usina nuclear de Krisko, na Eslovênia ¿ que tem um reator da Westinghouse ¿ vai ser abastecida com o novo combustível. Feito com material que suporta mais calor, o novo elemento combustível, uma espécie de bateria carregada com urânio, aumenta a potência térmica em mais 30% e por isso consegue gerar mais 10% de energia elétrica.

A usina de Angra I, por exemplo, que está operando com a potência mais baixa por causa da troca do gerador, produz 500 megawatts por hora, embora tenha capacidade para gerar 650 megawatts.

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¿ Com o novo combustível e com a troca do gerador de vapor, Angra I passaria a gerar cerca de 710 megawatts por hora. O aumento de carga daria para abastecer uma cidade com 200 mil famílias ¿ destacou Samuel Fayad, diretor de produção da INB.

Fayad explicou que o grupo técnico, formado por especialistas das três empresas, desenvolveu um novo tubo, que carrega o urânio usado no reator, com um diâmetro menor. Assim, foi reduzida a quantidade de urânio em cada carga. Além disso, aumentou a energia que pode ser retirada do urânio.

Os tubos do elemento combustível, que eram feitos com uma liga metálica chamada zircaloy 4, passarão a ser feitos com uma liga do tipo zirlo, que oferece a vantagem de suportar temperaturas mais elevadas.

¿ Para cada elemento combustível eram necessários 411 quilos de urânio enriquecido. Com o novo elemento, será preciso 373 quilos. Cada quilo de urânio beneficiado custa cerca de US$1,2 mil. Em cada recarga, usamos 40 elementos combustíveis; portanto, a economia gira em torno de US$1,2 milhão por recarga. Assim, economizaremos e ainda aumentaremos a capacidade de gerar energia em torno de 10% ¿ disse Fayad.

Segundo ele, com três recargas na usina de Angra I os investimentos feitos pelo Brasil no projeto, de cerca de US$3 milhões, estarão pagos:

A Eletronuclear decidiu fazer a primeira instalação do combustível no Brasil apenas em 2007, quando vai estar concluída a substituição do gerador de vapor de Angra I. Fayad explicou que foi possível desenvolver o novo combustível porque ele é usado em reatores da década de 70.

¿ Ao longo das décadas de 80 e 90, novos materiais surgiram e novas tecnologias foram desenvolvidas. Ao longo dos últimos 15 anos, foi possível também avaliar o combustível queimado nos reatores e percebemos que havia condição de torná-lo mais eficiente ¿ concluiu Fayad.