Título: IGREJA DOS EUA REVELA 1.092 CASOS DE PEDOFILIA
Autor:
Fonte: O Globo, 19/02/2005, O Mundo, p. 31

A Igreja Católica dos Estados Unidos recebeu 1.092 novas acusações de abuso sexual contra padres no ano passado e teve de desembolsar mais de US$157 milhões para lidar com elas. A notícia foi divulgada ontem pelo Escritório de Proteção a Crianças e Jovens da Conferência Episcopal dos EUA, que encomendou uma auditoria sobre o tema em todas as dioceses do país.

Segundo o relatório, a maior parte das denúncias refere-se a abusos que teriam ocorrido décadas atrás ¿ sobretudo entre 1965 e 1974 ¿ e 72% dos 756 padres e diáconos envolvidos já estão mortos, foram expulsos da Igreja ou estão afastados de suas funções. Ao todo, 78% das vítimas eram meninos e a maioria tinha entre 10 e 14 anos quando começaram os abusos.

No ano passado, 22 acusações de menores

O problema, no entanto, persiste: 22 acusações foram de crianças e adolescentes com menos de 18 anos. Todas, segundo a Igreja, foram encaminhadas à polícia, e metade delas era referente a padres que já haviam sofrido algum tipo de acusação.

¿ A crise dos abusos sexuais de menores na Igreja Católica não terminou ¿ reconheceu a chefe do Escritório de Proteção a Crianças e Jovens, Kathleen McChesney. ¿ O que terminou é a negação de que o problema existe, o que terminou é a relutância da Igreja em falar abertamente com o público sobre a natureza e a extensão desse problema.

A auditoria foi a segunda feita pela Igreja Católica americana após o auge dos escândalos de pedofilia em 2002, quando a arquidiocese de Boston foi alvo de denúncias que desencadearam uma enxurrada de acusações a padres. Muitos ex-agentes do FBI, a polícia federal dos EUA, participaram da investigação. Um dos pontos checados foi o grau de implementação das novas políticas para proteção de menores pelas dioceses católicas americanas.

Segundo os números divulgados pela Igreja, das 194 dioceses incluídas na auditoria, 74% já implementavam na totalidade as políticas antiabuso, e a maior parte das 26% restantes até o final de 2004 estaria em dia com as diretrizes para impedir abusos. Apenas sete dioceses do rito oriental não haviam implementado as novas políticas e uma diocese, a de Lincoln, em Nebraska, recusou-se a participar da auditoria.

O estudo, no entanto, foi alvo de críticas de pessoas que sofreram abusos. Para David Clohessy, da Rede de Sobreviventes dos que Foram Abusados por Padres, disse que o relatório falha ao não medir a eficácia da ajuda prestada pela Igreja às vítimas e da prevenção a novos abusos. Além disso, segundo ele, a auditoria foi ¿mínima e enganosa¿, com os bispos detendo poder demasiado sobre quem participou da investigação.

¿ Devemos a crianças inocentes e a adultos vulneráveis a insistência em provas sérias e dados sólidos antes de determinar que está havendo progresso ¿ disparou ele.

O relatório foi divulgado na mesma semana em que o ex-padre Paul Shanley foi condenado a uma pena de 12 a 15 anos de prisão por abusar sexualmente de um menino nos anos 80. O caso foi um dos mais rumorosos no início da década e contribuiu para dar visibilidade ao problema.

A Conferência Episcopal dos EUA já autorizou a realização de uma terceira auditoria este ano, mas já está sob críticas por ter reduzido o número de dioceses que sofrerão investigações completas. Os relatórios são uma tentativa da Igreja de restaurar sua credibilidade abalada pelos escândalos, que também custaram centenas de milhões de dólares em indenizações.

Entre 1950 e 2002, 10.667 casos de abusos de menores

No ano passado, os bispos americanos divulgaram estatísticas inéditas sobre a questão do abuso sexual de menores por padres no país. Segundo o relatório na época, 4.392 religiosos foram acusados em 10.667 casos entre 1950 e 2002. Nas primeiras auditorias, divulgadas no ano passado, os bispos anunciaram que 90% das 195 dioceses estavam cumprindo as novas diretrizes da Igreja para impedir abusos de menores adotadas em junho de 2002.