Título: POLÊMICA NA MUDANÇA DE ACERVO DE BIBLIOTECA
Autor: Rafael Teixeira
Fonte: O Globo, 18/02/2005, Rio, p. 15

Funcionários dizem que anexo não tem condições de abrigar periódicos; segundo diretora, imóvel está em obras

O destino de um dos mais importantes acervos de periódicos brasileiros está provocando polêmica entre funcionários e a diretoria da Biblioteca Nacional. Milhares de volumes do arquivo da Coordenadoria de Publicações Seriadas, que inclui diários oficiais do tempo do Império e exemplares de revistas e jornais antigos, serão transferidos para um prédio na Zona Portuária. A notícia provocou a indignação de funcionários, já que, segundo eles, o acervo estaria indo de um lugar já degradado, como estão alguns dos andares da biblioteca, para outro considerado ainda pior.

Na última sexta-feira, a chefe da Divisão de Publicações Seriadas da biblioteca, Maria Angélica Varella, foi afastada por ter discordado da medida. Com outros funcionários, ela já havia criticado, por meio de uma nota na internet, o envio dos periódicos "para um local sem condições mínimas para guarda de acervo, diários oficiais e jornais originais, muitas vezes os únicos existentes no país."

Para funcionários, consulta seria impossível

Para os funcionários, os periódicos ficariam sujeitos a uma deterioração mais rápida devido à falta de condições adequadas para o armazenamento do material. Ainda segundo eles, a consulta a esse arquivo se tornaria impossível, pois o prédio não tem estrutura para receber o público.

- Esse anexo não tem condição de abrigar originais importantes e raros, vários deles do século XIX. Não há climatização, refrigeração e higienização - disse uma funcionária que não quis se identificar.

O anexo já abriga importantes coleções, como a de revistas em quadrinhos da Ebal e a da Associação Brasileira de Jornais do Interior, que, segundo funcionários, estão se deteriorando rapidamente. O estado de alguns dos andares da Biblioteca Nacional, no entanto, também não é o ideal. Várias paredes têm infiltrações e, em dias de chuva, funcionários precisam pendurar plásticos no teto e pôr baldes no chão. Bibliotecários acham, porém, que a situação é pior no anexo.

- Lá existem janelas que não fecham e outras com os vidros quebrados. Quando chove, entra água no prédio. No verão, a construção vira uma estufa - disse um funcionário.

A idéia de remanejar o acervo surgiu em março de 2004, quando o Centro de Processamento Técnico (CPT) da biblioteca recebeu uma verba da Fundação Vitae. O dinheiro seria destinado à ampliação dos laboratórios de microfilmagem. Na época, a diretora do CPT, Célia Zaher, que também é presidente da Associação Internacional dos Bibliotecários, elaborou um projeto para que uma parte do acervo de periódicos fosse desalojada e o local pudesse abrigar um cofre de microfilmes. Ela afirma que o anexo está passando por reformas que o deixarão em condições de receber os periódicos:

- Esse remanejamento já deveria ter sido feito há anos, mas só agora tivemos condições de arcar com os custos. Está havendo uma gritaria de gente que não sabe nada do que está falando. Ninguém é irresponsável de deixar um arquivo tão importante num local sem condições - disse.

A Biblioteca Nacional não confirmou quando começará a mudança, mas funcionários afirmam que vários volumes já estão amarrados e prontos para ser transportados.