Título: MORTE DE HARIRI PODE APRESSAR RETIRADA SÍRIA
Autor:
Fonte: O Globo, 20/02/2005, O Mundo, p. 40

O assassinato do bilionário e ex-primeiro ministro Rafik Hariri ¿ um dos homens mais influentes da história recente do Líbano ¿ poderá provocar o que parecia impossível: acelerar a retirada das tropas da Síria. Especialistas ouvidos pelo GLOBO apostam nisso. Os sírios entraram no Líbano em 1976, na época em que o país implodia numa guerra civil que durou 15 anos. A guerra acabou, mas eles nunca saíram.

Para alguns, a Síria foi o poder estabilizador do Líbano. Mas com o passar dos anos, Damasco, capital síria, virou uma espécie de sombra em Beirute, capital libanesa: tudo passa por seu crivo, desde a escolha do presidente libanês à ação de grupos extremistas, como o Hezbollah (libanês) ou o Hamas (palestino), duas milícias em guerra com Israel.

O pano de fundo da atual crise é o presidente libanês, Émile Lahoud, pró-sírio. Seu mandato deveria ter terminado em novembro. A Síria quis que ele ficasse mais três anos. Desgostoso, Hariri ¿ então primeiro-ministro ¿ saiu do cargo em outubro, unindo-se indiretamente à oposição, apesar das tentativas do presidente sírio, Bashar al-Assad, de convencê-lo a ficar. Quando o carro que transportava Hariri foi pelos ares na segunda-feira, matando ele, outras 15 pessoas e ferindo 130, os olhares se voltaram para a Síria. Não era obra de um grupinho qualquer. Antoine Basbous, diretor do Observatório dos Países Árabes, em Paris, enxerga digitais da Síria na tragédia e diz que os americanos não podem amolecer o jogo agora:

¿ Eles foram desafiados, é preciso que haja uma reação. Caso contrário, o terrorismo vai continuar contra os opositores libaneses e teremos um regime stalinista atravessando a fronteira para impedir a democracia (no Líbano) ¿ disse, insistindo na importância das sanções imediatas e na ação internacional. ¿ Só a pressão interna libanesa não será suficiente.

Basbous vê a ação da Síria do Líbano num contexto mais amplo. Segundo ele, a Síria aposta no eixo xiita entre Damasco, Bagdá e Teerã. A morte de Hariri, um sunita, reforçou este eixo, segundo Basbous. Ele está convencido de que os sírios não sairão do Líbano mediante um acordo: só se forem rechaçados.